Noventa dias depois de encerrado seu governo José Alencar falece. O ex-presidente Lula mais que muitos sente a perda e, com toda acidez crítica sentimos todos nós.
Neste breve obituário cabe uma reflexão quanto ao significado da bem sucedida aliança empreendida em 2002 e o que ela representou simbolicamente para a sociedade brasileira, ao mesmo tempo refletir sobre o papel e importância de Alencar para a vida e sociedade brasileira dos últimos anos.
O primeiro fato que nos vem à mente refere-se ao equilíbrio de forças necessário a governabilidade. Grande parte dos analistas dizem que o papel do Zé Alencar teria sido esse de equilibrar o governo Lula ao centro e levar o Lula para mais ao centro. Outras percepções, parecidas, colaboram que o mesmo, por ser empresário e mineiro possibilitou trânsito mais fácil de Lula entre setores mais recalcitrantes da burguesia.
Algo como uma análise mais definida dos papéis dos diversos grupos de interesse, mais a direita, mais a esquerda, mais ao centro, no período de oito anos do governo Lula ainda está por se fazer. Vale ponderar que, na medida em que o chamado Consenso de Washington se enfraqueceu, desde o próprio enfraquecimento das posições estadunidenses e desde um maior fortalecimento de posições relativamente mais autônomas das elites nacionais, o peso de atuação dos diferentes grupos internos, tanto ao PT, mas, como no caso do PL do ex-vice, tiveram maior determinação nas ações tomadas no período.
Em dois aspectos a atuação de Alencar foi mais visível: na política econômica, especificamente na contraposição a ação mais belicosa do Banco Central e do eterno uso da ferramenta mais elementar: a taxa de juros. Neste aspecto, pelo posicionamento mais definido quanto ao uso mais regrado, em função dos próprios interesses de classe.
Vale lembrar que quanto maior as rendas de juros, menor as rendas de lucro empresarial, o que Marx entendia como “capitalistas reguladores” desde muito entendem que uma taxa média de lucro maior que a taxa de juros é um poderoso incentivo para investir em melhores e mais equipadas plantas industriais em lugar de simplesmente se contentar em ganhar juros de “capital dinheiro ocioso”.
Um segundo elemento de ação refere-se ao campo de ganho empresarial em si. Na medida em que se manteve enquanto capitalista industrial (do setor têxtil), os interesses do mesmo para que se praticasse política industrial nos parece um fato a ser ressaltado. Neste sentido, as medidas tomadas principalmente no segundo governo Lula, mesmo que não tenham sido as mais arrojadas do mundo, entretanto avançaram enquanto política industrial propriamente, conferir as Cartas IEDI.
Fazemos neste breve obituário a homenagem ao industrialista brasileiro e valoroso homem público que foi José Alencar.
Mais um bom brasileiro se foi. José Alencar: empreendedorismo, humildade, preocupação com o país e, acima de tudo, vontade de viver.
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