A rotineira agenda de elevação da taxa Selic (Sistema de Liquidação e Custódia) já gerou artigos publicados neste espaço (conferir artigos de Emir Sader e José Trindade). Os articulistas, em geral, concebem que as decisões do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central seguem cenários de referência e parâmetros que são construídos com grande influência dos próprios assim denominados “Market players”, ou seja, grandes investidores, agências de risco, que atuam fortemente no mercado de arbitragem, ganhando com as oscilações e diferenças entre as taxas locais e as taxas internacionais.
Nosso cronista Zé Lins nos brinda com outra explicação para essa “coisa” toda. Vamos a mais essa Crônica Medievalista!
Por Zé Lins
Era o ano 3825, naves de reconhecimento arqueológico tinham descoberto no hemisfério sul do planeta Terra sinais de uma antiga e breve civilização. Os sinais dos equipamentos de pesquisa apontavam que o núcleo político-administrativo da fatídica civilização era sobre um planalto que se erguia praticamente no centro da rede de cidades que a compunha.
A descoberta que mais intrigou os arqueólogos e historiadores foram relatos de jornais, perfeitamente preservados, de um longo período histórico no qual os homens mais poderosos da região teriam feito uso de um aperfeiçoado “software” econômico que teria marcado em definitivo o seu futuro.
O comitê de pesquisa chamou de imediato dois arqueoeconomistas, cientistas responsáveis pela análise dos aspectos cultureconômicos de civilizações extintas e que detinham o domínio da discutível ciência econômica, tornada inútil no século 22 juntamente com a supressão do chamado modo capitalista de produzir. A possibilidade de se chamar mais de dois arqueoeconomistas foi sugerida, pois os mesmos, tal como os desaparecidos economistas, tinham poucas concordâncias sobre quase tudo.
Um dos arqueoeconomistas, com tendência monetarista, de imediato percebeu no programa econômico adotado pelos Bredies (assim parecia se denominar os fanáticos cultuadores dos “juros” da malograda cultura) uma soberba expressão da subordinação dos mandatários locais em relação ao credo da cultura mais poderosa, até então, do século XXI: os Dólars.
O segundo arqueólogo observou cinco pontos importantes do “software” econômico adotado pelos Bradies: i) havia uma obsessão pelo controle fiscal; ii) as elevadas taxas de juros – as maiores entre os diversos povos dominados pelos Dólars – era o único mecanismo “confiável” das elites locais; iii) adotavam um trade-off (palavra Dólars muito empregada pelos economistas nativos) entre os notáveis juros e a inflação, chamavam de meta inflacionária; iv) todos os gastos governamentais estavam contigenciados pela necessidade de obtenção de crescentes “superávits primários” e, por último; v) havia a crença de que cumprindo os quatro pontos anteriores e alfabetizando os milhares de desvalidos, aquela civilização dos trópicos iria repentinamente encontrar-se com suas congêneres mais avançadas do clima temperado.
Saindo de cena os arqueoeconomistas, chamaram bioengenheiros para examinar os restos mortais (fósseis) dos dirigentes, ao que parece, da mais poderosa instituição dos séculos XX e XXI. Como observaram os arqueoeconomistas, o local no qual exerciam suas prodigiosas funções era identificado pela legenda na qual era possível reconhecer a palavra Banco Central, no que restou das suas identificações.
Qual a surpresa terem descoberto que, implantado nos ombros e ligados aos crânios, havia um chip eletrônico com um programa de procedimentos cujo conteúdo era um software Dólars indicando, passo a passo, à conduta neoliberal a ser seguida pelos consecutivos dirigentes da instituição dita Banco Central, sendo que na última linha da rotina do programa havia em língua Dólars um curioso procedimento: “que se repita os mesmos erros por pelo menos duas décadas”.
O juros da divida pública é uma forma de transferir riqueza para os mais ricos!
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