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Editor: José Trindade



sexta-feira, 4 de março de 2011

Crônicas Medievalistas II: O vírus da imprensa


Por Zé Lins

Era uma quinta-feira, casualmente véspera de feriado, algo que dava àquele dia a impressão de ser a sexta antecipada e, como os dias festeiros são ansiosamente esperados, toda gente estava mais agitada do que o convencional.

Muitos acontecimentos e uma diversidade enorme possível de notícias poderiam estar nesta manhã de quinta escancaradas em manchetes garrafais nas centenas de jornais, jornalecos e jornalões em toda parte, mas qui nada!

Na véspera, os copidesques preparados, editores de plantão e o febril corre-corre nas redações. Os editores de texto e as telas azuis preenchiam freneticamente o tempo dos redatores naquele final de tarde de quarta-feira. Das ruas as entrevistas, reportagens, paparazzos diversos e toda série de depoimentos, alguns bombásticos, outros rotineiros, registros policiais com assaltos e homicídios, a fanfarra dos governantes e empresários, a sandice dos políticos e os acidentes urbanos mais corriqueiros.

Já corriam às 19hs daquela fatídica quarta-feira e as ilhas de jornalismo pipocavam de labor mais penoso, sendo checados os copiões, aprovadas e refeitas as matérias de capas. Tudo normal à espera das rotativas girarem e pela manhã do feriadão os jornaleiros anunciarem as panaceias ocorridas ou inventadas pelas chefias de redação.

O “tudo perfeito” se tornou quase instantaneamente em gigantescos rebuliços, gritos de espanto e transloucada confusão, agonia de não saber o que fazer e, pior, como comunicar às chefias que “os computadores, sonho moderno da comunicação, estavam, todos, exatamente todos, bugados”, termo universalmente, ou pelo menos terraqueamente, bem conhecido: quando nossa máxima tecnologia pifa e deixa a angústia e meia dúzia de palavrões no ar.

“Miguel, Mané, Zé, Robert, o que está havendo! Quero tudo finalizado em dez minutos” gritavam “Frias, Romulos, Barbalhos”, dos maiores aos menores “capitães de imprensa”. Ninguém sabia de nada, mas rápido correu nas redações que os computadores da imprensa mundial, nacional, estadual, local, todos foram apagados por um “vírus bem virulento”.

Mais detalhes chegavam e mais exasperados redatores e chefias ficavam. A explicação era simples: “como todos os jornais literalmente copiavam matérias provenientes de fontes comuns, as Agências Internacionais, um grupo tecnológico radical qualquer usou àquela via para disseminar um pegajoso vírus que bugou as máquinas mundo a fora”.

Amanheceu a quinta de feriadão, belo feriado ensolarado e, ao que parecia e todos expressavam, o dia mais calmo do ano. Nenhuma notícia sobre crimes, nenhum escândalo de corrupção denunciado, nenhuma nota sobre a inflação galopante.

Na sexta a rotina já estava estabelecida, os vírus excluídos e as rotativas a pleno vapor. No sábado, em todas as esquinas os jornaleiros a toda voz anunciavam: “vírus do espaço tenta acabar com a humanidade...”.

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