Espaço de debate, crônica crítica do cotidiano político paraense e de afirmação dos pressupostos de construção de um Pará e Brasil Democrático e Socialista!

Editor: José Trindade



sexta-feira, 29 de abril de 2011

O declínio da oposição

Maurício Dias, da Carta Capital 


Com a vitória do sociólogo Fernando Henrique Cardoso, em 1994, a embriaguês provocada pelo sucesso do Plano Real levou Sergio Motta, então ministro das Comunicações, a prever que o PSDB ficaria no poder por 20 anos (para isso não poupou forças e atropelou limites éticos). Preparou a emenda da reeleição de FHC e passou como um trator sobre a oposição ao catar votos a qualquer preço.
Elogiado como operador político e financeiro das campanhas eleitorais tucanas, Motta falhou no papel de oráculo. O planejado império tucano durou oito anos. Empurrado para o papel de principal opositor do governo petista o PSDB e, mais ainda, seus aliados sofreram um impacto ameaçador ao longo dos oito anos do operário Lula no governo. A vitória de Dilma acelerou o processo e o DEM (ex-PFL), por exemplo, vive um perigoso minguante.
O que explica a erosão político-partidária da oposição?
Reflexões mais profundas levariam à conclusão de que, sem enraizamento social, ela perdeu-se ao deixar o poder. Mas há circunstâncias contingenciais.
Os adversários do PT ficaram sem o norte, dizem em coro. É mais grave, porém, do que isso.  Eles se desnortearam ao se apresentarem nas eleições tentando esconder o que fizeram: as privatizações que pressupunham a destruição das bases do “Estado brasileiro” para soerguimento de um “Estado mínimo”, globalizado e sem soberania.
O retrato desse amedrontado comportamento foi exibido no decorrer das três últimas campanhas presidenciais.
Como opositores, são muitas as quimeras dos tucanos. Eles agora prenunciam uma “ditadura partidária” do PT que pode levar à situação ocorrida no México. Ou seja, o domínio, por 70 anos, do Partido Revolucionário Institucional (PRI).
Essa nova tentativa de aterrorizar a sociedade entra, no entanto, em contradição com o devaneio de que são da oposição, ou ainda melhor, significam rejeição a Dilma, 43 milhões, 711 mil e 388 votos obtidos pelo candidato José Serra no 2º turno. Isso equivale a 43,95% dos votos válidos. Eis a tese:
O papel da oposição, em larga medida, foi representado pela mídia”, escreveu com precisão, recentemente (em O Globo), o embaixador aposentado Rubens Barbosa, presidente do Conselho de Comércio Exterior da Fiesp, ao lamentar que a oposição tenha perdido o discurso. Mas foi impreciso o formulador tucano ao deduzir que “… 43 milhões rejeitaram o que o PT representa…”
Essa teoria trava uma briga de morte com os fatos. A teoria morre no fim.
Os eleitores não são cativos dos candidatos. Nem dos que ganham nem dos que perdem. Aqueles 43 milhões ainda estão colados no candidato derrotado?
Números inéditos da pesquisa Ibope, de março de 2011, respondem que não. Ao se manifestarem pela aprovação do governo e pela confiança que depositam em Dilma eles dão sinais de que se desgarram dos tucanos. Isso não significa, entretanto, que tenham trocado de lado. Dilma parece ter cooptado uma parte substancial dos eleitores que declararam ter votado em Serra no 2º turno. Ou seja, parece estar se esvaindo aquele estoque de votos que os tucanos acreditam cativo.
Eleitores e quimeras se esfumam como “a brancura da espuma que se desmancha na areia”, tal como ensina o samba Risque, clássico de Ari Barroso.


Comentário PD13:

Nos parece que o tucanato tem alguns problemas de origem: 
i) a confusão ideológica entre querer ser, mesmo no nome, social-democrata, com a significação histórica disso, e o viés efetivo de neoliberal; 
ii) as lideranças partidárias envelheceram sem o surgimento de novas, com a mesma capacidade e calibre das "rococó"; 
iii) fruto das anteriores,o problema programático, levantado brevemente pelo Maurício Dias, mas de fundo maior nos embaraços da nossa "ave de rapina colorida"; 
iv) relacionada a sua origem, fruto do MDB, as agruras regionais: o peso dos fisiologismos locais e; 
v) as alterações na sociedade brasileira não conseguem ser analisadas pela intelectualidade partidária tucana. Melhor para o Brasil! Bom final de semana! 

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Silvia: Voz e Paixão

Por Zé Lins

Conheci Silvia Lobo numa das muitas noitadas regadas a violão e voz que participamos. Ela e Mário, sua voz e o inconfundível violão do marido, sempre são generosos com os mais destrenados ouvidos. Fruto dessa amizade surgiram, até mesmo, músicas, letradas por mim, musicadas por Mário, divinamente cantadas por Silvia.

Silvia Lobo expressa bem a luta de tantos contra uma doença que maltrata e impõe enorme sofrimento aos que são acometidos das formas mais severas, porém a virtuosidade de alguns como o ex vice-presidente Alencar, ou como nossa musa da "LAMA" (Loucos e Amantes da Música Amazônica), nos possibilita pensar na capacidade de vence-la. 

Nossa singela solidariedade a Silvia e ao Mário e que continuemos durante muitos anos cantando "Beira do Tapará":

Beira do Tapará

Na pata do boi
da várzea crescente,
na malhadeira meeira do mundo
dos rios.

Canoas, rabetas nas águas barrentas,
Curumatá, surubim, pacú,
Pirapitinga do baixo rio.

Nas águas barrentas
do Amazonas sedento,
nas águas serenas
dos canoeiros velozes.

Na remação e no mata-mata
dos dias parados e
do brega rasgado.

Fundo de mata,
beira de rio
que na pata do boi
da várzea secante
se faz na remarcação daquele
mundo de rios.

Poronga com um punhado dӇgua
Pororoca da Invernada
Rio-mar dessa cantinga de beira-rio.


Para a solidariedade a Silvia Lobo, para que o Estado financie o seu tratamento, acesse WWW.peticaopublica.com.


quarta-feira, 27 de abril de 2011

Cláudio Puty: Câmara acompanhará escândalo na Alepa

Cláudio Puty: Câmara acompanhará escândalo na Alepa: "O presidente da Câmara Federal, deputado Marco Maia, assinou, nesta tarde, o ato que autoriza a criação da comissão externa que irá acompa..."

Neste final de semana o PD13 irá analisar mais "a fundo" a atual crise na Alepa e da elite paraense. Não nos enganemos, o buraco é bem mais embaixo e o acompanhamento que a Câmara Federal irá fazer mediante a comissão externa coordenada pelo Deputado Cláudio Puty dará o necessário apoio as investigações realizadas pelo MPE. 

Importante ressaltar o que o Ministério Público afirmou: "...as ocorrências são desde 1993...", portanto diversas figurinhas carimbadas e medalhões até aqui não envolvidos, podem ter o que temer.

O direito humano à guerra

Postamos artigo do Prof. José Luís Fiori, publicado no Valor Econômico de hoje. No debate quanto as “justezas” da intervenção militar de forças lideradas pela OTAN, Fiori observa que “a própria idéia de uma guerra em nome dos 'direitos humanos', contém uma contradição conceitual, e é por isso que todas elas acabam se transformando, inevitavelmente, numa 'guerra de conversão', ou numa nova forma de Cruzada”. Leiam na íntegra.

PD13


Por José Luís Fiori
27/04/2011
Do Valor Econômico

"Eu via no universo cristão uma leviandade com relação à guerra que teria deixado envergonhadas as próprias nações bárbaras. Por causas fúteis ou mesmo sem motivo se corria às armas e quando já com elas às mãos, não se observava mais respeito algum para com o direito divino nem para com o direito humano, como se pela força de um edito, o furor tivesse sido desencadeado sobre todos os crimes". Hugo Grotius, "O Direito da Guerra e da Paz", 1625

Hugo Grotius (1583- 1645), pai do direito internacional moderno, foi herdeiro da tradição humanista e cosmopolita da filosofia estóica, que formulou, pela primeira vez, a ideia de uma sociedade internacional solidária e submetida à leis universais. Mesmo sendo cristão e teólogo, Grotius desenvolveu a tese de que essas leis universais faziam parte de um "direito natural comum a todos os povos...tão imutável que não poderia ser mudado nem pelo próprio Deus". Para o jurista holandês, o direito à segurança e à paz faziam parte desses direitos fundamentais dos homens e das nações. Apesar disso, Grotius considerava que o recurso à guerra também era um direito natural dos povos que viviam dentro de um sistema internacional composto por múltiplos estados, desde que a guerra visasse "assegurar a conservação da vida e do corpo e a aquisição das coisas úteis à existência". Mas apesar disso, Grotius não concebeu nem defendeu a possibilidade de que se propusesse como objetivo a defesa ou promoção internacional dos próprios direitos humanos. Em parte, porque ele era católico e conhecia a decisão do Concílio de Constança (1414- 1418) que fixara a doutrina da ilegitimidade da "conversão forçada", e de todo tipo de guerra visando a conversão de outros povos, como tinha sido o caso das Cruzadas, nos séculos anteriores.

Direitos Humanos é um terreno cercado de boas intenções, mas minado pela hipocrisia e pelo oportunismo

Depois do Concílio de Constança, o conceito de "guerra justa" ficou restrito - para os católicos, e para quase todos os europeus - às guerras que respondessem a uma agressão, e que fossem caracterizadas como um ato jurídico, destinado a reconstituir o status quo ante. Grotius não desenvolveu o argumento, mas se pode deduzir, do seu ponto de vista, que os direitos humanos, como a fé religiosa, são uma luta e uma conquista de cada homem, e da cada povo em particular. Sobretudo, porque ele foi um dos primeiros a se dar conta que num sistema internacional formado por múltiplos estados, era inevitável que coexistissem várias "inocências subjetivas", frente à uma mesma "justiça objetiva". Não havendo forma de arbitrar - "objetivamente" - sobre a razão ou legitimidade de uma guerra declarada entre dois povos que reivindicassem uma interpretação diferente, dos mesmos direitos fundamentais, dos homens e das nações. Nesse sentido, a própria ideia de uma guerra em nome dos "direitos humanos", contém uma contradição conceitual, e é por isso que todas elas acabam se transformando, inevitavelmente, numa "guerra de conversão", ou numa nova forma de Cruzada.

Em última instância, esse também é o motivo pelo qual a discussão sobre Direitos Humanos, no campo internacional, se transformou - depois do fim da Guerra Fria - num terreno cercado de boas intenções, mas minado pelo oportunismo e pela hipocrisia. Porque existe, de fato, uma fronteira muito tênue e imprecisa entre a defesa do princípio geral, como projeto e como utopia, e a arrogância de alguns estados e governos que se auto-atribuem o "direito natural" de arbitrar e difundir, pela força, a tábua ocidental dos direitos humanos. Para compreender a complexidade e a fluidez dessa fronteira, basta ler um outro grande filósofo iluminista e cosmopolita, o alemão Immanuel Kant, dividido entre a sua utopia de uma "paz perpétua", e o seu desejo de converter o "gênero humano" à "ética internacional civilizada". Para Kant, "no grau de cultura em que ainda se encontra o gênero humano, a guerra é um meio inevitável para estender a civilização, e só depois que a cultura tenha se desenvolvido (Deus sabe quando), será saudável e possível uma paz perpétua". ("Começo verossímil da história humana", 1796)

Para ver na prática, como se desenvolvem essas guerra kantianas, basta observar o caso mais recente da intervenção na Líbia, iniciada por um governo francês de direita e em estado de decomposição, seguido por um governo inglês conservador e absolutamente inexpressivo, e por um governo americano ameaçado por graves dificuldades internas. Tudo começou sob o aplauso internacional de quase todos os defensores dos direitos humanos, de direita e de esquerda, que consideravam se tratar de um caso indiscutível de "guerra legítima", feita em nome da defesa de uma população agredida e desarmada. Mas já agora, depois de algumas semanas de morticínio, de lado e lado, vai ficando cada vez mais claro que o que está em questão, não é o direito à vida e à liberdade dos líbios, nem tampouco, a promoção de uma democracia universal. Ao mesmo tempo e na medida mesmo em que a guerra da Líbia vai se transformando, de forma cada vez mais clara, num exercício militar experimental de implantação de uma cabeça-de-ponte, para uma intervenção futura, eventual e mais ampla, das forças da OTAN, na África.

Agora bem, olhando de outro ângulo, se pode observar uma recorrência e uma dificuldade análoga, no debate e nas iniciativas dos organismos internacionais, com relação à defesa e à promoção dos "direitos fundamentais", ao redor do mundo. O que se tem assistido nos últimos anos é quase sempre o mesmo filme: de um lado se posicionam e votam os inocentes úteis e os defensores generosos do princípio, do projeto e da utopia; e do outro, se posicionam os países que se utilizam do seu apoio e da sua mesma retórica para projetarem seu poder e sua estratégia geopolítica. Por meio de "guerras humanitárias", promovidas ou lideradas, invariavelmente, pelos mesmos países que compõem o atual "diretório ético e militar do mundo", ou seja: EUA, Grã Bretanha e França.

José Luís Fiori é professor titular e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Economia Política Internacional da UFRJ, e autor do livro "O Poder Global", da Editora Boitempo, 2007. Escreve mensalmente às quartas-feiras no Valor.

Dilma: conter a inflação e crescer 'simultaneamente'


Da Carta Maior

Ao reativar 'Conselhão', presidenta faz discurso que, com sutileza, coloca combate à inflação e crescimento econômico em pé de igualdade. Em resposta a pressões do 'mercado', ela defende 'serenidade'. Conselheiros ligados a trabalhadores e empresários aplaudem recados. Na mira do 'mercado', ministro da Fazenda e presidente do BC mostram sintonia.


André Barrocal

BRASÍLIA – A presidenta Dilma Rousseff reativou, nesta terça-feira (26/04), o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, uma criação do ex-presidente Lula que quase sempre esteve no controle do PT e, agora, passa ao comando do PMDB. A troca da subordinação do chamado Conselhão não foi a única novidade da reunião ocorrida no Palácio do Planalto. Com a pauta do encontro centrada em inflação e crescimento, a presidenta colocou de forma clara, ainda que sutil, os dois elementos em pé de igualdade. “Eu me preocupo com a questão do crescimento econômico e do controle da inflação simultaneamente”, afirmou Dilma no discurso de encerramento da reunião.

A declaração arrematou um raciocínio que a presidenta construiu equilibrando-se nas palavras para não dar aos adversários espaço para a crítica de que o governo tolera aumento de preços em favor de mais PIB. Primeiro, ela havia dito: “Eu tenho o compromisso (…) com o controle da inflação. E eu cumpro meus compromissos.” Em seguida, evitou a expressão “mas” para completar: “Eu também tenho compromisso com o crescimento econômico e social (…) E eu cumpro os meus compromissos.”

A posição de Dilma foi vista com satisfação por trabalhadores e empresários. Para eles, indica uma certa disposição de resistir à pressão do “mercado”, setor que, com a oposição política desarticulada, constitui-se hoje no principal adversário do governo no assunto mais delicado do início da administração Dilma.

“Foi muito importante esse discurso de que o país precisa de crescimento tanto quanto de controle da inflação”, disse o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique, que é membro do Conselhão. “Há muito tempo que o mercado montou uma rede de pretoção que só defende o valor da moeda. Mas o país não pode parar de crescer”, disse o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, que também é conselheiro.

Segundo um ministro do governo, a presidenta de fato não vai patrocinar qualquer recessão para combater o aumento de preços. Ela aceita que a inflação volte à meta central de 4,5% no ano que vem, como o Banco Central (BC) tem dito que é o objetivo atual. Para 2011, desde que não haja nada parecido com explosão de preços, Dilma admite que a inflação gire em torno do limite autimposto pelo governo de 6,5%.

Serenidade versus pessimismo
Toda a área econômica do governo trabalha com a perspectiva de que a alta de preços ficará abaixo do limite máximo em 2011. Em discursos no Conselhão, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do BC, Alexandre Tombini, mostraram afinação total, ao analisar a conjuntura econômica.

Segundo eles, há uma inflação mundial, que atinge inclusive o Brasil, decorrente da farra de capitais especulativos; verifica-se uma entrada maciça de dólares no país que afeta a atividade econômica; vale à pena controlar gastos públicos para encarar a alta de preços; e, no fim do ano, o Brasil será um dos poucos a exibir crescimento e inflação controlada, apesar das dificuldades.

O problema é que nem Mantega nem Tombini – alvos de antipatia do “mercado”, pois seus currículos não exibem passagens pelo sistema financeiro - parecem conseguir convencer o “mercado” com suas análises. As expectativas do “mercado” são bem piores. No caso da inflação, por exemplo, sobem há seis semanas. Tal pessimismo tende a influenciar a economia real e leva o próprio “mercado” a defender medidas mais duras de combate à inflação. Como juros maiores, com os quais, por sinal, o setor ganha dinheiro.

Mas Dilma também reservou um trecho do discurso para confrontar, outra vez com sutileza, aquele tipo de atitude. “Compreendo quando setores da sociedade, no calor do debate econômico, duvidem de tudo, cobrem diariamente novas medidas, insistem na ação cotidiana e na cobrança de novas e novas medidas contra tal ou qual desequilíbrio afirmou a presidenta.” Mas compreender o calor e a paixão que envolvem normalmente o debate não pode significar, para o governo, aquecê-lo mais do que é necessário. Trataremos sempre com serenidade e segurança as medidas e ações necessárias.”


Fotos: Agência Brasil

terça-feira, 26 de abril de 2011

Lula, Dilma e o futuro do Brasil

Por Emir Sader

Os brasileiros foram decidindo, ao longo dos últimos anos, o tipo de país que queremos. Lula tornou-se o presidente de todos os brasileiros, ancorado em um modelo econômico e social de democratização do país. Reformulou o modelo econômico e o acoplou indissoluvelmente a políticas sociais de distribuição de renda, de criação de emprego e de resgate da massa mais pobre do país. Dilma pretende consolidar essa hegemonia também no plano político.

Mas a questão essencial, aberta, sobre o futuro do Brasil, não se dará nesses planos: o modelo econômico, submetido a difíceis e inevitáveis readequações, será esse, com aprofundamento e extensão das politicas sociais. A possibilidade do governo consolidar sua maioria e de se intensificar e estender a sangria da oposição, é muito grande.

A questão fundamental que decidirá o futuro do Brasil se dá no plano dos valores. Nosso país foi profundamente transformado em décadas recentes. Esgotado o impulso democrático pela frustração de termos um governo que democratizasse o país não apenas no plano político e institucional, mas também nas profundas estruturas injustas e monopólicas geradas e/ou consolidadas na ditadura, sofremos a ofensiva neoliberal dos governos Collor, Itamar e FHC, que não apenas transformaram o Estado e a sociedade brasileiros, mas também os valores predominantes no país.

O resgate no plano da economia e das relações sociais que o governo Lula logrou - e a que o governo Dilma dá continuidade – não afetou os valores predominantes instalados na década anterior. O justo atendimento das necessidades de acesso aos bens e serviços básicos de consumo da massa mais pobre da população foi acompanhada, pela retomada da expansão econômica, pela continuidade e a extensão dos estilos de consumo e dos valores correspondentes gerados no período anterior.

Que valores são esses? Eles se fundamentam na concepção neoliberal da centralidade do mercado em detrimento dos direitos, do consumidor em detrimento do cidadão, da competição em detrimento do justo atendimento das necessidades de todos. É o chamado “modo de vida norteamericano”, que se difundiu com a globalização e com a hegemonia mundial que os EUA conquistaram no final da guerra fria, com o fim do mundo bipolar e sua ascensão a única potencia global.

Trata-se de uma visão do mundo não centrada nos direitos, na justiça, na igualdade, mas na competição entre todos no mercado, esse espaço profundamente desigual e injusto, que não reconhece direitos, que multiplica incessantemente a concentração de riqueza e a marginalização da grande maioria.

A extensão do acesso ao consumo para todos e o monopólio dos meios de comunicação – concentrados em empresas financiadas pelos grandes monopólios privados – favoreceram que as transformações econômicas e sociais não tivessem desdobramentos no plano da ideologia, dos valores, no plano cultural e educativo. No momento em que a ascensão social das camadas pobres da população ganha uma dimensão extraordinária, o tema dos valores que essas novas camadas que conseguem, pela primeira vez, ter acesso a bens fundamentais, fica em aberto que valores serão assumidos por esses setores, majoritários na sociedade brasileira.

Não por acaso setores opositores, em meio a uma profunda crise de identidade, tentam apontar para essas camadas sociais ascendentes como seu objetivo, para buscar novas bases sociais de apoio. E o próprio governo tem consciência que na disputa sobre os valores desses setores ascendentes se joga o futuro da sociedade brasileira.

Há várias questões pendentes, preocupantes, com que o governo Dilma se enfrenta. As readequações da política econômica não conseguiram ainda dar conta da extensão dos problemas a enfrentar: taxas de juros altas e em processo de elevação, desindustrialização, riscos inflacionários, insatisfação com o aumento do salario mínimo – para citar apenas alguns.

Da mesma forma que as condições em que se dão obras do PAC revela como a acelerada busca dos objetivos do plano não levou devidamente em consideração as condições a que as empreiteiras submetem as dezenas de milhares de trabalhadores das obras mais importantes do governo federal. Jirau, Santo Antonio, Belo Monte – são temas que estão longe de ter sido devidamente equacionados.

As mudanças, mesmo se de nuance, na politica externa, suscitam perguntas sobre se a equilibrada formulação de perseguir o respeito aos direitos humanos sem distinção do país, se reflete na realidade, quando inseridas em um mundo extremamente assimétrico, em que, por exemplo, o Irã é denunciado, enquanto os EUA – por Guantánamo – e Israel – pela Palestina – não são tratados da mesma forma. Em que a Líbia é bombardeada, enquanto se trata de maneira diferenciada a países em que se dá o mesmo tipo de movimento opositor, como o Iémen e o Bahrein, para citar apenas alguns casos. Se iniciativas que impeçam que se trate, objetivamente, de dois pesos, duas medidas, não forem tomadas, o equilíbrio que se busca não se refletirá no conflitivo e desequilibrado marco de relações internacionais.

Mas a questão estrategicamente central - mencionada anteriormente - é a questão das ideias, dos valores, da cultura, das formas de sociabilidade. Nisso, as dificuldades na politica cultural (retrocessos, isolamento politico, ausência de propostas, falta de consciência da dimensão da politica cultural no Brasil contemporâneo), na educativa - com a indispensável e estreita articulação entre politicas educativas e culturais - e o seu desdobramento fundamental nas politicas de comunicação, são os elementos chave. Com a integração das políticas sociais – do Bolsa Família às praças do PAC -, das politicas de direitos – dos direitos humanos aos das mulheres e de todos os setores ainda postergados no plano da cidadania plena – deveria ir se constituindo uma estratégica ampla e global para promover e favorecer formas solidárias e humanistas de sociabilidade. Para que estejamos a favor do governo não apenas porque nossa situação individual está melhor, mas porque o principal problema que o Brasil arrasta ao longo do tempo – a desigualdade, a injustiça social, a marginalização das camadas mais pobres – tem tido respostas positivas e sua superação é o principal objetivo do governo.

Foi criada no Brasil uma nova maioria social e politica, que elegeu, reelegeu Lula e elegeu Dilma. Trata-se agora de consolidar essa nova maioria no plano das ideias, dos valores, da ideologia, da cultura. Esse o maior e decisivo desafio, que vai definir a fisionomia do Brasil da primeira metade do século XXI.

Queda da cesta básica ajuda a enfrentar pressão do mercado

Da Carta Maior


Inflação no primeiro trimestre supera mais da metade da meta oficial de 2011, mas preço da cesta básica cai quase 2%, segundo dados do governo. Proteção do bolso dos mais pobres dá conforto político para Dilma Rousseff apoiar Banco Central contra pessimismo do 'mercado' e ajuda a segurar alta dos juros. Presidenta quer encarar desafio de derrubar taxa brasileira para níveis internacionais.






André Barrocal


BRASÍLIA – A inflação oficial acumulada de janeiro a março ficou em 2,4%, mais da metade da meta do governo para 2011 (4,5%). Dados que circulam no governo e chegaram à presidenta Dilma Rousseff mostram, no entanto, que o preço da cesta básica no primeiro trimestre caiu 1,9%, apesar do encarecimento geral dos alimentos no mundo.

A relativa proteção, apurada pelo governo, do bolso do povão na hora de comprar comida tem dado conforto político ao Palácio do Planalto. Ajuda-o a manter a tranquilidade e até a topar um certo enfrentamento do pessimismo inflacionário do “mercado”, que na opinião de economistas como Roberto Messenberg, coordenador do Grupo de Análise e Previsões do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), chega a ser “terrorismo”.

Uma semana antes da Páscoa, por exemplo, o mercado aumentara de novo sua previsão de inflação para 2011, colocando-a muito perto do limite máximo admitido pelo governo, e esperava que o Banco Central elevasse o juro em meio ponto percentual, a fim de controlar a escalada dos preços. Mas o BC surpreendeu e subiu menos (0,25) – e mesmo assim recebeu críticas de quem achava a alta desnecessária, como trabalhadores e empresários; e nem assim o "mercado" acalmou-se (segundo pesquisa semanal do BC divulgada nesta segunda-feira, dia 25, o "mercado" elevou de novo a expectativa de inflação para 2011).

O mesmo quadro referente ao custo da cesta básica também contribui para a convicção de Dilma Rousseff de que não se deve nocautear a economia agora, com juros cavalares, ainda que a inflação, em 2011, orbite (por cima ou por baixo) o teto de 6,5%. A consequência seria pesada demais, em termos de crescimento e geração de emprego e renda. “Mas a presidenta jamais vai dizer isso em público”, segundo um auxiliar dela.

O presidente do BC, Alexandre Tombini, e sua diretoria estão em sintonia com a presidenta. De acordo com uma fonte da instituição, o banco entende que tentar trazer a inflação para a meta este ano exigiria “derrubar” a economia com um custo muito alto para a sociedade brasileira reverter. Daí que o BC trabalha por uma inflação de 4,5% só no ano que vem, como expressou de forma clara, em março, no último relatório que divulga a cada três meses sobre a inflação.

Juro 'normal' até 2014
A busca do governo por alternativas e discurso contra calibrar o juro na altura que, se dependesse do “mercado”, a taxa já teria alcançado também se encaixa no plano de Dilma Rousseff de terminar o mandato com um percentual “normal”. Quanto menos o juro subir agora, mais fácil de alcançar o objetivo. “Vamos buscar uma taxa de juros compatível com a taxa de juros internacional. É possível sim, perfeitamente. Esse é o grande desafio que o Brasil vai ter de enfrentar, pelo menos desta vez”, declarou a presidenta em visita recente à China.

Ao montar a atual diretoria do BC, Dilma já tinha dado um sinal de sua ambição de longo prazo. Dos sete diretores, apenas dois têm passagem pelo “mercado”. Os outros são funcionários de carreira do banco. A presidenta sabe que, por isso, o “mercado” não gosta do atual BC, como não gosta do ministro da Fazenda, Guido Mantega, outro sem o sistema financeiro no currículo. “Mas ela dá respaldo total ao Guido e ao Tombini. Aliás, a política econômica não é deles, é dela”, afirmou um auxiliar de Dilma.

Café Econômico

domingo, 24 de abril de 2011

Cláudio Puty: Escândalo na Alepa: tiroteio nos jornais de hoje

Cláudio Puty: Escândalo na Alepa: tiroteio nos jornais de hoje: "Recomendo a leitura dos principais jornais paraenses de hoje. O Liberal fecha o cerco a Domingos Juvenil, através de imperdível entrevist..."

Presença da Política Industrial: Países Industrializados

O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial publicou a Carta IEDI 464, intitulada “Presença da Política Industrial: Países Industrializados”, buscando analisar as recentes políticas estabelecidas nas principais economias da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Postamos neste espaço parte da análise e disponibilizamos link de acesso para documento completo.

Carta IEDI 464: Presença da Política Industrial: Países Industrializados

Em meados de julho de 2010, a revista The Economist realizou um debate online sobre a política industrial. O que motivou a realização deste debate foi a constatação efetuada pelo semanário inglês de que a crise econômica global de 2008-09 favoreceu o retorno da política industrial, fazendo reviver o desejo dos políticos pela identificação e promoção dos campeões nacionais no setor privado. A revista propôs ao público e a dois especialistas convidados a seguinte moção: “The Economist acredita que a política industrial sempre fracassa”. A defesa do ponto de vista da Casa ficou a cargo do professor Josh Lerner, da Harvard Business School, enquanto a contraposição foi assumida pelo professor Dani Rodrik, da JFK School of Government, também da Universidade de Harvard.

No final, as argumentações de Rodrik convenceram a maioria dos leitores que acompanharam o debate. A moção proposta pela The Economist foi rejeitada por 72% dos leitores-votantes. Pode-se dizer que esse resultado nada tem de surpreendente, pois são abundantes as evidências empíricas fornecidas pela literatura econômica comparada sobre experiências nacionais bem-sucedidas de política industrial.

É amplamente sabido que, ao longo da história do capitalismo, vários países fizeram uso intenso da política para reduzir e mesmo superar o atraso econômico em relação ao país-líder. Estes foram, por exemplo, os casos da Alemanha, Estados Unidos no século XIX e do Japão, Coreia do Sul, Taiwan no século XX. Menos notório, contudo, é o uso que os governos das economias avançadas ainda fazem da política industrial para a manutenção e ampliação de vantagens competitividades da indústria doméstica frente à concorrência acirrada de novos players nos mercados crescentemente globalizados.

Ao contrário do que supõe a revista The Economist, não está ocorrendo um retorno da política industrial, pela simples razão de que tal política jamais foi abandonada nem pelos países desenvolvidos, ainda que a expressão tenha se tornado maldita nos círculos acadêmicos e nos organismos internacionais. Em alguns casos, em razão de alteração nos cenários doméstico e internacional, houve mudança de prioridades e de estratégias e mesmo de filosofia, mas em nenhuma das principais nações desenvolvidas, o uso da política industrial foi descontinuado. Igualmente, não obstante as recomendações neoliberais do Consenso de Washington para o mundo em desenvolvimento, vários países, sobretudo na Ásia, mantiveram suas estratégias de promoção do desenvolvimento nacional, nas quais a política industrial foi (e continua) sendo peça-chave.

A importância da política industrial foi ressaltada também por Cimoli, Dosi, Nelson e Stiglitz em uma obra recente. Rejeitando a noção de falha de mercado, que tem como referência um padrão ótimo raramente existente em qualquer mercado, esses autores ressaltam que, desde a origem do capitalismo moderno até os dias atuais, as instituições são parte integrantes em todos os processos de aprendizado tecnológico e de coordenação e mudança econômica. Isto porque, em ambientes que possibilitem a experimentação de novos produtos, de novas técnicas de produção e de novas formas de organização, as “interações econômicas se encontram ancoradas em uma rica malha de instituições não-mercado”. Mercados e instituições não-mercado são complementares. No processo dinâmico do desenvolvimento econômico, novos desafios emergem continuamente, sobretudo no que se refere aos avanços tecnológicos, exigindo dos governos uma atuação ativa na adoção de políticas públicas discricionárias.

Para esses autores, a política industrial tem um sentido amplo, que inclui desde medidas de suporte de vários tipos às indústrias nascentes a políticas comerciais, políticas de ciência e tecnologia, políticas de competitividade setorial, encomendas públicas e políticas que afetam os investimentos diretos estrangeiros e alocação de recursos financeiros, políticas de concorrência, entre outros. Junto com processos de "engenharia institucional" para moldar a natureza dos agentes econômicos, dos mecanismos de mercado e das regras em que operam e as fronteiras entre o que é regido por interações de mercado, e o que não é.

A seguir, são examinadas as prioridades e objetivos da política industrial nas principais economias avançadas: Alemanha, França, Reino Unido, Estados Unidos e Japão. Posteriormente, esta Carta tratará das políticas industriais em algumas economias emergentes: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Esses textos fazem parte de um estudo maior sobre políticas industriais, tema ao qual o IEDI vem se dedicando durante este ano e que o próprio IEDI vem trazendo a público por meio de seus diferentes veículos.

Para acessar o texto completo: Carta IEDI

sábado, 23 de abril de 2011

LIVROS

A Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) estabeleceu a data de 23 de abril enquanto data celebrativa do Livro. Num país em que a média de leitura é muito baixa, comemorar essa data é central. Segue poesia de nosso colaborador em homenagem a este sublime “objeto” da construção humana.






Por Zé Lins

Paralisado eu os olhava,

Entediados me encaravam,
Os via enfileirados,
Performativos, incólumes a minha frente.

Não ousava os falar,
Somente os encarava,
Em frente a minha atenção, aos poucos,
Desfaziam-se.

Em gritos me chamavam,
Assinalando nossas buscas.
Paralisado me detive,
Sobre o querer e o saber,
Angustiado vomitei.

As vozes roucas,
Significativas dos livros
Alucinavam-me.
Nada mais pronunciei.

Gilberto Carvalho diz que, ao contrário dos partidos, movimentos sociais amadureceram

Postamos entrevista com chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, ministro Gilberto de Carvalho, ele defende o financiamento público de campanha, confira. Retirado da Carta Capital.

Agência Brasil

22 de abril de 2011 às 11:10h
Por Luciana Lima e Ivanir José Bortot*

Brasília – Responsável por estabelecer a proximidade do governo de Dilma Rousseff com os movimentos sociais, o ministro Gilberto Carvalho, chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, disse que os movimentos sociais acabam compreendendo mais as demandas do país do que os próprios partidos políticos. Para o ministro, os movimentos amadureceram no Brasil nas últimas décadas e, ao contrário dos partidos políticos, investiram da formação de seus quadros. Carvalho defendeu a necessidade de uma reforma eleitoral no Brasil e apontou o voto em lista e o financiamento público de campanha como forma de mudar a atual realidade, que na sua avaliação induz à corrupção.

Confira mais um trecho da entrevista de Gilberto Carvalho à Agência Brasil.

Agência Brasil – O governo tem limitações para atender às demandas do movimento social por questões orçamentárias. Como administrar esse conflito?

Gilberto Carvalho – Essa tensão é inevitável. Eu brinco com eles dizendo que nós estamos sentados agora nesse lado da mesa, antes, estávamos no outro lado com eles, o que faz com que todos nós, oriundos do movimento social, esperemos de novo estar sentados do outro lado. Nosso destino é voltar para os movimentos sociais. Nosso papel aqui é tentar forçar a barra ao máximo dentro das limitações orçamentárias e institucionais para atender a essas demandas. Quando se faz o Orçamento, é preciso levar em conta esses aspectos. Aí é que está o jogo de governar, que é passar em grande parte pela sua filosofia, e por aquilo que se estabelece como prioridade.

ABr – E qual é a prioridade do governo?

Carvalho – Quando a presidenta escolhe como prioridade a superação da miséria, ela está dando um indicativo de que parte importante do Orçamento irá para esse destino. Isso, do ponto de vista ético, para nós todos que temos uma história política, é muito confortável. É também muito estimulante participar de um governo que estabelece essa prioridade. Há que se pensar em reproduzir, em espelhar no Orçamento essa opção. É claro que o Orçamento não é infinito e há gastos correntes que não se pode deixar de pagar. Mas tem que se reservar de fato um quinhão importante para isso. Isso não significa que vamos atender a todas as demandas, mas significa que muitas das demandas podem ser atendidas e, com isso, estabelecer pelo menos um compromisso, uma percepção da parte do movimento de que o governo tem a famosa vontade política de contribuir.

ABr – O senhor já observou essa compreensão?

Carvalho – O movimento amadureceu muito. Eu fiquei emocionado esses dias quando o pessoal da Fetraf [Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar] veio trazer uma pauta para a gente, o discurso da Elisângela [Elisângela Araújo, presidenta da Fetraf], companheira que hoje representa a Fetraf, que é um dos movimentos do campo de maior expressão. É um discurso que deixa emocionado de ver a maturidade. Eles não vieram reivindicar apenas terra, conforto nos assentamentos. São pautas muito mais amplas que dizem respeito, por exemplo, ao direito da mulher, à questão da criança, dizem respeito fortemente à questão ambiental. Enfim, a cidadania foi apropriada em grande parte, de forma muito intensa pelo movimento social. Isso é o resultado desse novo processo que a gente vive no Brasil, de amadurecimento dos movimentos. Acho isso muito bom. Isso facilita o diálogo. Eles passam a compreender também melhor.

ABr – Em que outros momentos o senhor conseguiu enxergar esse amadurecimento?

Carvalho - A conversa que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) teve com a presidenta foi extraordinária. Eles vieram discutir como podem ajudar no programa de alfabetização e no programa de reflorestamento do país, coisa que há 20 anos a gente, que é de movimento [social], sabe que não era assim.

ABr- O senhor diria que os movimentos se tornaram, por excelência, fóruns importantes de discussão dos mais variados assuntos ligados à cidadania?

Carvalho – Os movimentos fizeram uma coisa que os partidos não fazem. Eles qualificaram e seguem qualificando seus quadros. O MST tem uma escola que já funciona há muito tempo. Eles tomaram esse cuidado. A própria militância é um grande ensino. O velho método do bom Paulo Freire diz que se reflete a prática. Cada luta que se trava, se amadurece na cabeça. Os movimentos se tornaram verdadeiras escolas de cidadania. Ao se falar hoje em consciência ambiental, por exemplo, podemos considerar que, se Juscelino fosse construir Brasília hoje, não construiria, porque o pessoal não iria deixar passar máquina nesse Cerrado. É um amadurecimento benéfico do conjunto da sociedade.

ABr – O senhor comparou os movimentos sociais com os partidos. Fale um pouco mais sobre isso.

Carvalho – O que eu acho em relação aos partidos é que eles não cuidaram da formação de seus quadros da mesma forma que os movimentos fizeram. Isso é grave, mais do que grave, é gravíssimo. Nós temos uma estrutura política e eleitoral que é quase uma indução à perda de teor ideológico e político. Ela é uma indução, eu diria, até à corrupção, se nós falarmos da eleição. Qualquer cidadão hoje para ser candidato precisa de recursos para ser eleito. Onde é que ele busca esses recursos? Eu fui candidato em 1986 e ganhava três salários mínimos. Naquele tempo, a gente mantinha esquema de que dá para ser candidato com festinha, com lista entre amigos, com bingo, deitava e rolava de se trabalhar nessas coisas e se conseguia. Hoje, não, a campanha ficou cara. Eu fico pensando que às vezes se joga a pessoa nesse meio sem que haja uma preparação.

ABr – Era diferente em outros tempos?
Carvalho – Eu tenho a impressão de que o enfrentamento à ditadura e aos governos neoliberais nos deram teor ideológico e nos fizeram mais resistentes a essas chamadas, entre aspas, tentações. Acho muito perigoso pegar um jovem hoje e colocá-lo em um partido, sem que haja uma preparação, o risco de ser cooptado por essa mentalidade é enorme. Não adianta a gente, hipocritamente, ficar condenando uma pessoa dessa, se a gente não a preparou.

ABr – O senhor acha, então. que os movimentos conseguem compreender melhor as demandas do país que os partidos?

Carvalho – Não quero fazer aqui uma dicotomia simplista. Tem muita gente nos partidos que tem essa visão generosa. Graças a Deus, temos ótimas referências. Mas, em termos de tendência, é exatamente isso. Os militantes dos movimentos são levados a uma visão mais generosa, porque é uma visão mais coletiva nos movimentos. Não se é induzido a uma carreira mais pessoal. A questão do poder não é visualizada de uma maneira tão pessoal. Nesse sentido, sim, dá para dizer que hoje os movimentos são laboratórios de gente de maior generosidade, de maior ação cidadã, no sentido mais amplo, do que nos partidos. Dadas as regras atuais.

ABr – O que é preciso fazer para mudar isso?

Carvalho – Pode ser diferente. Se, por exemplo, na reforma política a gente fizer um processo de eleição por lista e com financiamento público, vai se fazer uma indução ao contrário, uma indução ao coletivo. O sujeito, para ser candidato, terá que ter militância em partidos sérios. Em partidos picaretas, haverá pessoas que vão comprar lugar na lista também, não vamos ser anjos aqui, mas pelo menos, permite aos partidos que são sérios trabalhar internamente de tal maneira que o sujeito, para ter o lugar dele na lista, vai ter que trabalhar na militância, vai ter que ter base. Na regra atual, cada vez mais, se vai induzindo para serem eleitos os que têm mais alcance de mobilização financeira, o que é muito grave.

ABr – O senhor acredita que o financiamento público de campanha seria o antídoto contra práticas como o caixa 2?

Carvalho – É o antídoto. Não vamos ser ingênuos, pois sempre pode se ter abuso, mas pode também se ter uma fiscalização muito mais fácil. Primeiro, a pessoa não vai fazer campanha para ele e sim para a chapa dele. Isso já muda completamente a lógica. Se o teu partido tiver mais votos, você terá mais chances de ser eleito, portanto você vai fazer campanha pelo seu partido e o financiamento será coletivo também e não individualizado. Eu acho isso muito importante para dar um choque na atual mentalidade.

*Publicado originalmente na Agência Brasil.

Cambaleante em mar tempestuoso

Postamos artigo de Martin Wolf, publicado no Valor de 20/04/2011. Vale observar que o autor ressalta a séria instabilidade da economia estaduniedense e os fortes reflexos das incertezas presentes na maior economia capitalista.



Martin Wolf

É espantoso que a Standard & Poor's (S&P) possa dizer algo sobre a classe de dívida mais conhecida no mundo, considerada agregadora de valor. Afinal de contas, essa firma pertence a uma classe cujas falhas contribuíram para a crise financeira. Apesar disso, o anúncio de que a S&P está modificando de estável para negativa sua nota de longo prazo para a dívida pública federal dos EUA nos fez lembrar algo vital: a economia mundial não está em um caminho estável.

Ao contrário, para adotar uma frase muitas vezes aplicada pelo premiê chinês Wen Jiabao a seu país, a economia mundial está "instável, desequilibrada, descoordenada e insustentável". A situação fiscal dos EUA é apenas um de uma série de riscos, e longe de ser o maior.

Isso pode não parecer tão claro a julgar pelas previsões mais recentes no relatório Perspectiva Econômica Mundial, do Fundo Monetário Internacional (FMI). Em nível mundial, suas previsões são as mesmas que em janeiro: saudável crescimento de 4,4% em 2011 e 4,5% em 2012. Mesmo a taxas de câmbio de mercado, o crescimento é estimado em 3,5% e 3,7%, respectivamente.

A previsão é de que o volume de comércio mundial cresça 7,4% neste ano e 6,9% em 2012, após a recuperação de 12,4% no pós-crise em 2010. Prevê-se também que a inflação permaneça razoavelmente sob controle e que os preços ao consumidor subam 2,2% em 2011 e 1,7% em 2012 nas economias avançadas. Mesmo em países emergentes, a inflação deverá cair de 6,9% neste ano para 5,3% em 2012.

O relatório também revela o padrão de crescimento divergente. A previsão é de que os países avançados registrem uma recuperação moderada, com um crescimento de 2,4% em 2011 e 2,6% em 2012. Por outro lado, as economias emergentes e em desenvolvimento deverão crescer 6,5% nos dois anos, e a Ásia em desenvolvimento, tendo à frente mais uma vez a China e a Índia, deverá crescer 8,4% em dois anos.

Essa é uma transformação mundial. Mas é também um período de grande incerteza. O relatório Estabilidade Financeira Mundial, do FMI, abre com a visão ousada segundo a qual "os riscos para a estabilidade financeira mundial diminuíram" desde outubro de 2010. A confiança, efetivamente, melhorou. Mas realidade é outra coisa.

A rápida elevação dos preços das commodities contribui para provocar alta da inflação em economias emergentes e estagflação em países avançados. O resultado é uma pressão por aperto monetário. Sem dúvida, a alta nos preços das commodities cria desafios em toda parte.

Primeiro, não se pode dizer que os países avançados retornaram à normalidade: os déficits fiscais permanecem excepcionais; a política monetária está extremamente acomodatícia; o setor financeiro está frágil, especialmente na zona do euro; o crescimento do crédito tem sido notavelmente lento nos EUA e na zona do euro; em vários países, inclusive nos EUA e no Reino Unido, as famílias continuam extremamente endividadas e existem possibilidades de inadimplências de países, falências de bancos ou as duas coisas, na zona euro. Além disso, apesar da escala dos estímulos monetários e fiscais aplicados, a recuperação nesses países ainda deverá ser anêmica.

Em segundo lugar, embora os países avançados estejam em crise, várias economias emergentes estão sofrendo devido a uma expansão excessiva do crédito e superaquecimento. Em muitos países, especialmente na Ásia e América Latina em desenvolvimento, a produção está bem acima da tendência pré-crise.

Particularmente preocupantes são as posições da Argentina, Brasil, Índia e Indonésia. "Em muitas dessas economias", nota o FMI, "tanto a inflação plena como o núcleo da inflação estão subindo a partir do níveis baixos ou já estão bastante elevadas". O FMI refere-se ao Brasil, Colômbia, Índia, Indonésia e Turquia; nos últimos cinco anos, o crédito per capita praticamente dobrou nas economias emergentes, em termos reais. Muito disso deságua no mercado imobiliário. O FMI acrescenta que "essas expansões estão próximas daquelas vivenciadas antes de expansões aceleradas seguidas de contrações bruscas de crédito anteriores.

Terceiro, interações complexas e perturbadoras ocorrem entre os dois lados da nossa dividida economia mundial.

Uma delas vem por meio do boom de preços das commodities. O índice de preços de commodities, do FMI, subiu 32% entre junho de 2010 e fevereiro de 2011. Atrás desse aumento está a forte demanda nas economias emergentes, especialmente a China, condições de oferta adversas, especialmente de alimentos, e instabilidade política em alguns países produtores de petróleo. Alguns argumentam que a política monetária é a responsável. Essa opinião não é convincente. Mas taxas de juros extremamente baixas reduzem os custos de financiamento de estoques, ao passo que a desvalorização do dólar eleva os preços em dólares.

A rápida elevação dos preços das commodities contribui para provocar alta da inflação em economias emergentes e estagflação em países avançados. O resultado é uma pressão por aperto monetário. Um banco central mundial poderia estar apertando fortemente sua política monetária, embora essa resposta a uma mudança nos preços relativos obrigasse outros preços, inclusive salários, a cair, em termos nominais. Sem dúvida, a alta nos preços das commodities cria desafios para a política monetária em toda parte.

Outra interação vem por intermédio de afluxos de capital e da consequente pressão ascendente sobre as taxas de câmbio nos países emergentes. O aperto monetário agrava a pressão. Mas a pressão do câmbio não se faz sentir uniformemente, uma vez que a China administra sua taxa de câmbio de forma tão eficaz. Muitos países estão preocupados pois permitir valorização e grandes déficits em conta corrente torna suas economias vulneráveis a mudanças na política monetária americana. O FMI sugere que "no curto prazo, controles de capital podem ser o único instrumento à disposição das autoridades". Mas é duvidoso que economias abertas possam utilizá-los, como faz a China.

Por último, porém não menos importante,, temos a questão conexa do reequilíbrio da demanda mundial. Apesar do superaquecimento em uma série de países emergentes, o FMI conclui que a tendência para o reequilíbrio perdeu impulso. Como também observa o FMI, as consequências adversas do reequilíbrio fiscal para a demanda nos países de alta renda precisam ser parcialmente contrabalançadas por um aumento das exportações líquidas. Infelizmente, observa o FMI, "um fardo desproporcional de reequilíbrio da demanda desde o início da crise tem sido suportado por economias que não têm grandes superávits em conta corrente, mas atraem fluxos devido à abertura e profundidade de seus mercados de capitais". Tal reequilíbrio - a um só tempo limitado e maligno - intensifica consideravelmente os riscos de mais choques financeiros.

No geral, as autoridades monetárias enfrentam uma série de desafios complexos e interligados: normalização fiscal e monetária nos países avançados; correção do excesso de endividamento e a fragilidade financeira nessas economias; administração do superaquecimento das economias emergentes, ajuste a grandes mudanças nos preços relativos e reequilibrar todo o padrão da demanda mundial. Nada do que está acontecendo agora sugere que isso irá será administrado com competência, que dirá harmoniosamente. Em suma, quem pensa que estamos, agora, mirando planaltos ensolarados está se enganando. Ainda temos muita turbulência pela frente.

Martin Wolf é editor e principal comentarista econômico do FT (Financial Times)

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Os Ganhadores da II Gincana


Amigos, amigas, companheiros e companheiras, a Segunda Gincana do PD13 foi um retumbante sucesso. Antes da mesma tínhamos 68 (sessenta e oito) seguidores e ainda não tínhamos atingido os dez mil acessos. Hoje (21/04), data que contabilizamos os e-mails enviados para o propostademocratica@gmail.com e divulgamos os (as) vencedoras (es), contabilizamos 91 (noventa e um) seguidores, alcançamos os quatorze mil acessos e, mais importante, temos o carinho e respeito de todos (as) aqueles que acreditam, militam ou se interessam por um Pará e Brasil Democráticos e Socialistas!

Nossos brindados são a Cintia:


   

E o Bruno










Parabéns aos nossos dois seguidores e debatedores!

O CHE DE SONDEBERGH


A inventiva latino-americana sempre foi rica de heróis, alguns míticos outros bem concretos. Desde Bolívar e San Martin, passando por Angelin e Antonio Conselheiro, até os inimagináveis heróis carbonários das diversas facções de esquerda espalhadas pelos quatro cantos da ibérica-latina. Deve-se, obviamente, citar os míticos humanos criados por Machado, Márquez, Amado, Llosa, Rosa entre outros.




O que dizer da relação entre o mítico e o concreto, fusão em um tipo totalmente diferente das características do romance e da lâmina fria da realidade latina. Esse me parece o resultado do trabalho de Soderbergh da cinebiografia de Ernesto Che Guevara.

As diversas biografias do “Che” ressaltavam desde sempre são febril vivacidade, parte da condição de um ser humano formidável. O que há de novo nesta filmografia é menos a figura do herói e sim uma dose, extremamente positiva, de uma capacidade sobre-humana de se doar a um ideal de liberdade.

Até que ponto seres concretos possuem uma sublime áurea ética, algo tão perfeito que custa acreditar que existam. De fato, estes seres sobre-humanos são formas míticas, porém a beleza expressa no conteúdo de vida, condizentes com a completa doação, necessariamente possibilita o toque poético de suas existências.

Uma excelente pedida para esse feriadão assistir essa versão do maior mito e herói latino-americano!

PD13

Fórum Brasileiro de Segurança Pública

O PD13 apoia a iniciativa da Revista Carta Capital de promover de forma séria e coerente o debate sobre a gravíssima questão da Segurança Pública, socializamos nesse espaço os links de artigos que tratam dessa problemática social, inclusive artigos originalmente publicados no Blog.

Estimulamos a que outros também o façam, para que possamos construir uma Rede Social de Debate dessa questão central para construção da Nação brasileira nos marcos da cidadania e democracia.




Por Luís Flávio Sapori

A deterioração da ordem pública na sociedade brasileira ao longo dos últimos vinte anos é fenômeno inquestionável, tornando-se fator decisivo na queda da qualidade de vida da população. O diagnóstico da situação aponta para uma nova conformação da criminalidade em nossa sociedade. Há um maior grau de violência associada aos crimes urbanos bem como verifica-se a solidificação de atividades criminosas cada vez mais organizadas e pautadas por uma racionalidade tipicamente empresarial. O desafio que se apresenta à sociedade como um todo é a reversão desta tendência que paulatinamente vai se consolidando como grave ameaça às nossas instituições democráticas.



O Fórum de Segurança Pública coloca em questão o acesso às armas de fogo e contribui para que a comoção e o debate em torno da tragédia na escola de Realengo sejam catalisadores de mudanças necessárias e urgentes. Por Melina Riso. 

Por Melina Riso

Nesse momento de tristeza e indignação, em que todos nós compartilhamos nossa dor e solidariedade com os familiares e amigos das vítimas de Realengo, queremos, também, contribuir para que a comoção e o debate em torno da tragédia sejam catalisadores de mudanças necessárias e urgentes. Limitar o debate às possíveis motivações para o crime, ou sobre como parar um louco armado, é desviar o foco da questão mais importante. Precisamos discutir como reduzir e fiscalizar melhor o acesso às armas de fogo, munições e aos acessórios que podem transformar um momento de insanidade em um massacre.



O espaço do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que estreia nesta quarta-feira com artigo de seu presidente Jésus Trindade Barreto Júnior, vai discutir assuntos relacionados à área.

Por Jésus Trindade Barreto Júnior

Os últimos anos marcaram um período de espontânea organização do vasto repertório de debates e pesquisas sobre as complexas questões que orbitam o tema da segurança pública no Brasil. Alguma elevação de qualidade da administração pública e a ascendente competência de organizações da sociedade civil, sobretudo no espaço acadêmico, deram lastro a esta conjuntura. Violência, criminalidade, políticas públicas, sistemas policial e penal são alguns dos principais vetores de uma discussão que em certa medida superou o viés ideologizado de representação do problema como um conflito maniqueísta entre bandidos e mocinhos.

Segurança Pública e Cidadania

Por Flávio Trindade e Zé Lins

O discurso do atual governo estadual parece ser assombroso, em menos de alguns meses todos os problemas de segurança pública no Pará foram resolvidos, será? Debater de forma séria a interação entre segurança pública e cidadania é necessário.