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Editor: José Trindade



segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Transporte público e mobilidade urbana

A recente polêmica gerada em torno do reajuste das passagens de ônibus requerida pelo Sindicato Patronal do setor constitui somente um dos aspectos dessa importante questão que é o transporte público de passageiros. Outros aspectos que vieram a luz somente parcialmente referem-se a qualidade, gestão e eficiência do atual sistema, inclusive seu monitoramento pelos órgãos públicos cabíveis.

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou no mês de janeiro pesquisa referente a infraestrutura de transporte urbano no Brasil. A referida pesquisa faz parte do Sistema de Indicadores de Percepção Social (Sips), instrumento útil à atuação, presente e futura, do Estado e da sociedade civil no campo da concepção, implementação e avaliação das políticas públicas, colaborando para a maior eficácia e eficiência dos investimentos públicos.

Segundo a referida pesquisa o meio de transporte mais utilizado pelos brasileiros para locomoção dentro da cidade, com pouco mais de 44%, é o transporte público, sendo este, em geral, o ônibus, seguido pelo transporte por carro, 23,8%, e por moto e a pé com valores similares, 12,6% e 12,3%, respectivamente.


A pesquisa denota a diferença na opção de transporte entre os níveis de escolaridade, evidenciando uma tendência: quanto mais alto o nível de escolaridade, mais o meio de transporte carro é utilizado. Mais da metade das pessoas com nível superior completo ou incompleto e com pós graduação, 52,4%, utilizam esse transporte, e pouco menos de 30% utilizam o transporte público. Quase 50% das pessoas com até a quarta série do primeiro grau utilizam o transporte público e apenas 13,6% usam carro.

Os números anteriores também se refletem em outro aspecto: os congestionamentos urbanos. O número de pessoas que enfrentam congestionamentos mais de 1 vez por dia na região Sudeste é de 21,6%, um pouco acima da média nacional, de 20,5%, mas abaixo da região Norte, com 26,2% dos casos. Na frequência de 1 vez por dia, novamente a região Norte se apresenta em primeiro, com 19,7% dos casos, as regiões Centro-Oeste e Nordeste pouco acima da média nacional de 16%, e a região Sudeste e Sul com menores índices, em 15,5% e 14% respectivamente. Na medida em que se prioriza o uso do carro particular agrava-se as condições de locomoção nas cidades.


Quanto ao aspecto pontualidade dos transportes públicos utilizados pelos Entrevistados, na média nacional, 41,5% acham que sempre há atraso, com destaque para o Sudeste, com 51,5%, acima da média, e o Sul, com 28,4%, abaixo da média. No caso do Norte esse índice chega a 36,1%, o que evidencia que neste quesito, como em outros a qualidade do serviço é precária.

A região Norte também aparece como a primeira no índice de desistência por ausência de transporte, fator este que compromete o direito de ir e vir da população. A taxa chega a 53,8%. A região Norte também lidera pelo motivo de falta de linha no horário necessário, com uma taxa de 46,6%. Em seguida, vêm as regiões Nordeste, com 41,5%, e Sudeste, com 36,3%. É também no Norte que a população avalia o transporte público como de pior qualidade, quase 50% dos entrevistados consideraram o serviço ruim ou muito ruim.

Por trás desses dados evidencia-se o quanto a ação dos agentes públicos reguladores do setor de transporte coletivo de passageiros deve ser melhor acompanhada pelas instituições da sociedade civil, pois os segmentos mais empobrecidos e menos protegidos da população são os que de fato utilizam o transporte público, quanto pior o sistema de transporte, pior a qualidade de vida da população.

Para leitura completa do Sips Mobilidade acesse: Sips/Ipea

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