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Editor: José Trindade



sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

De novo aumento da taxa de juros?


Por Emir Sader

Quando se aproxima a próxima reunião do Copom, volta a campanha de criação do clima que possa favorecer novo aumento da taxa de juros. Passam a circular pela mídia, como se fosse por acaso, notícias que convergem para isso: riscos inflacionário, aumentos de preços, etc., etc.

Um dos objetivos fundamentais do governo é o de quebrar a hegemonia que segue tendo o capital financeiro na economia, atraído pela mais alta taxa de juros reais do mundo. Um capital que não cria riqueza, nem gera empregos, que aumenta e não diminui a vulnerabilidade da economia. Que afeta negativamente a balança comercial, que contribui para valorizar ainda mais o real, com todas as outras consequências negativas.

O governo se comprometeu a chegar, no seu final, a uma taxa de juros de cerca de 2%, na media mundial, superando o diferencial que atrai esses capitais de risco há anos para o Brasil. Mas, contraditoriamente, começou elevando-a e correm rumores de que seguiria aumentando-a, só revertendo essa tendência por volta do fim do ano.

Fica difícil de entender que, para controlar os desequilíbrios da economia, o governo faça um corte significativo no orçamento, opte pelo menor aumento do salário mínimo – afetando por tanto a grandes setores da população -, mas autorize esse aumento da remuneração que vai diretamente para o capital financeiro. Se estaria caminhando na direção oposta à que se quer chegar, tornando difícil a compreensão da lógica social da politica econômica.

Entende-se que os investimentos fundamentais estão preservados, resguardos no PAC, em todos os seus desdobramentos. No entanto, os desequilíbrios econômicos que o governo procura combater remetem diretamente ao afluxo de capitais externos, atraídos exatamente pelo taxa de juros real mais alta do mundo. O enorme esforço para atrair investimentos para o setor produtivo, mesmo se o governo subsidia créditos, se choca com a atração exercida pela remuneração da taxa de juros.

Revela-se assim um tiro no pé a lógica de seguir aumentando a taxa de juros, quando nada indica que exista um super aquecimento da economia. Os aumentos dos preços dos alimentos têm que ser discutidos diretamente com os setores responsáveis por eles, para encontrar as formas de contê-los.

Se o governo quer a compreensão e a solidariedade das centrais sindicais e dos outros movimentos populares com a lógica geral da sua política, tem que dar demonstrações concretas que está disposto a cortar do outro lado também. E nenhuma demonstração seria tão significativa e tão saudada como a contenção da taxa de juros e a retomada da sua tendência descendente.

Um comentário:

  1. A contradição aqui chega a ser paradoxal. De uma maneira geral o mesmo modelo de metas é utilizado a mais de uma década pelo BC. Tem razão a Presidenta Dilma que o olho sobre a inflação e outro sobre o santo é fundamental, mas daí para o uso monocórdico da taxa de juro vai longe.
    Infelizmente, como previa o Prof. Emir o Comitê de Política Monetária manteve seu autismo monossilábico.

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