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Editor: José Trindade



quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O SURGIMENTO DA FORMITRÔNICA


Por Zé Lins

    Em um daqueles entediantes e calorentos dias de junho, encontrava-me repousando e colocando as leituras atrasadas em dias. Debruçava-me sobre as teses de David Harvey (http://pt.wikipedia.org/wiki/David_Harvey), entre um gole e outro de café e uma abanada para espantar o calor e a modorra.

Normalmente leio próximo a meu computador, um bom HP, que alguns mais aficionados diriam: ultrapassado! Mas eu resisto à lógica absoluta do capitalismo. Meu HP, quase membro da família, 720mhz de velocidade, com um belo cd-rom e kit-multimídia, só tem aquele probleminha de quase incompatibilidade com a Internet, esta prodigiosa forma de divulgação de sexo, rockroll e drogas, às mais variadas.

O galho é que esta máquina, concebida após dezenas de milhares de anos de evolução humana, leva preciosos minutos para "baixar" algumas daquelas milhares de informações que os arquétipos cultuadores das tecno-baboseiras chamam de "conteúdos".

Após um gole de café, uma refletida e um pigarro, qual a minha surpresa: de dentro do meu HP saía sorrateira uma espécie de formiga, com antenas psicodélicas e na bunda microchips - para os não ensaiados na tecno-modernidade, os chips são pequeníssimas coisas feitas de coisas ainda menores: os transistores, que por sua vez são formados de peças ainda menores, chamadas emissores, coletores e bases. O importante é que essas coisas se combinam numa suruba extremamente organizada e produz os efeitos que todos conhecemos.

A tal da formiga eletrônica ao me ver emitiu um conjunto de bits, uma sequência de zeros e uns. Bem, eu, particularmente, não sou um grande conhecedor de linguagem boleana. Fiquei sem sacar nada. O bichinho, mais esquisito que já tinha visto, com certeza resultado, não se sabe de que forma, da fusão destes meliantes insetívoros com a invenção mais fascinante da espécie homo sapiens, me olhava analiticamente, sintetizando meu olhar e repetindo aqueles uns, zeros, uns, zeros..

Mas surpreso ainda, fiquei quando a formitrônica - assim a batizei - apontou suas antenas bioeletrônicas para o teclado do meu possante HP. Como uma luz saquei tudo. Liguei o Fenômeno - é homenagem ao aposentado, gordo, mas bom de bola Ronaldo - e após minutos de inicialização ultra-rápida, abrindo as  intermináveis janelinhas do Bill, lá estava a tela negra com um único ponto piscante.

A formitrônica, de alguma forma, comandava o processador do micro, e os bits se transformavam em palavras, um inglês tectrônico: "I am a new creature..". Logo entendi que aquela coisa vinha substituir a infame forma homo-sapiens no domínio da pobre galia. Ela unia o que de pior havia nos humanos e nas formigas: o inglês comercial e a fome cavernal.

Prontamente, sem continuar o diálogo, numa decisão nada filosofal, esmaguei antenas, chips, bits e inglês comercial; desliguei o Fenômeno  e me concentrei na leitura do velho livro do Harvey.

Moral da Estória: Cancele a internet, joga fora as listas de e-mails, facebook e twitters,        desliga o computador. Vai para praia e toma uma água de coco, que teus dias de espécie dominante estão contados.

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