Publicamos a Carta IEDI
(Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial: http://www.iedi.org.br/), sendo que já havíamos
chamado atenção (PD13) para a relação Bens Industrializados/Bens
Semielaborados.
A Carta IEDI expressa o acerto das recentes políticas
econômicas tomadas pela presidenta Dilma. O Plano Brasil Maior aponta na
direção correta de enfrentamento da “guerra cambial” e da necessária proteção
de setores importantes da indústria brasileira, porém ainda está incompleto,
faz-se necessário aprofundar política
industrial para as diversas regiões, especificamente a Região Norte não
apresenta nenhuma proposição ou política mais centrada.
Por outro, as recentes
posições de manter uma tendência de declínio da taxa de juros básica da
economia (SELIC) e uma posição de maior autonomia do Banco Central em relação
ao mercado financeiro devem ser saudadas.
Carta IEDI nº 490
A balança comercial brasileira dos bens
típicos da indústria de transformação registrou o expressivo déficit de US$
35,3 bilhões no acumulado dos três trimestres inicias de 2011, o que acena com
um desequilíbrio no ano de quase US$ 50 bilhões (US$ 34,8 bilhões em 2010). Até
então, o déficit mais elevado para períodos de três primeiros trimestres do ano
no Brasil foi o registrado em 2010, quando o saldo ficou negativo em US$ 25,8
bilhões. O incremento significativo do déficit em bens típicos da indústria de transformação
ocorreu paralelamente ao aumento do saldo positivo dos produtos da
agropecuária, da extração mineral e outros mais – que chegou a US$ 58,3 bilhões
nos primeiros três trimestres deste ano. Daí o saldo total da balança comercial
brasileira ter alcançado US$ 23,0 bilhões no período.
Mas, mesmo que os produtos primários
minimizem, do ponto de vista do resultado comercial brasileiro, o problema do
déficit comercial dos bens da indústria de transformação, deve ser considerado
outro ângulo da mesma questão, a saber: é flagrante o descompasso entre vendas
do varejo nacional e a produção industrial interna, no qual as vendas vêm
crescendo bem mais que a produção. Em parte relevante, isso é decorrência da
chamada guerra cambial e do reconhecido diferencial entre as taxas de juros
domésticas e as internacionais. O Plano Brasil Maior tenta dar conta desse
contexto adverso para o setor produtivo doméstico, mas deve ser aprimorado
visando a concatenar objetivos de médio e longo prazo para o País. Conferir um
norte contundente nos intentos para um horizonte maior faz-se premente, ao
sinalizar custos menores de investimento e produção e para esforços bem maiores
em elevação da produtividade e inovação.
O comércio de bens da indústria de
transformação por intensidade tecnológica, segundo o critério da OCDE, traz
alguns detalhes relevantes até para a atuação governamental em prol do binômio
investimento-produção:
Os bens produzidos por atividades de
alta intensidade tecnológica observaram déficit sem igual para o período do ano
em tela, de US$ 23,2 bilhões. Além dessa deterioração, suas exportações pouco
tem se recuperado, atingindo US$ 6,7 bilhões. Notar que, além do conjunto dos
bens do complexo eletrônico e dos produtos farmacêuticos – historicamente
deficitários –, o intercâmbio de aeronaves e afins também ficou deficitário.
É na categoria de bens de média-alta
tecnologia que o déficit mais se avoluma, atingindo US$ 38,3 bilhões nos três
trimestres iniciais de 2011 – também patamar recorde. Tanto as vendas externas
de bens da indústria automobilística, quanto as de bens de capital e mesmo as
de produtos químicos cresceram, apesar da deterioração nos saldos. Mencione-se
que o déficit em automóveis chegou a US$ 5,0 bilhões e o de produtos químicos a
US$ 16,3 bilhões.
Já o segmento de média-baixa intensidade
tecnológica ficou deficitário em US$ 5,6 bilhões em janeiro-setembro de 2011.
Foi a segunda vez e seguida que os bens típicos desse conjunto de atividades
apresentou déficit para tal acumulado do ano. A grandeza do déficit até caiu,
por conta das exportações de US$ 17,9 bilhões de produtos metálicos, um patamar
também recorde. Porém, os produtos de minerais não-metálicos registraram
déficit na série. Dada sua baixa capacidade produtiva interna, os derivados de
petróleo refinado, outros combustíveis e afins experimentaram déficit recorde,
de US$ 11,2 bilhões. Como dado positivo, o comércio de embarcações obteve
superávit de US$ 957 milhões.
A faixa de baixa intensidade tecnológica
mais uma vez arrefeceu os efeitos dos déficits das demais faixas. O superávit
sem igual na série, de US$ 31,8 bilhões foi puxado por exportações de US$ 45,2
bilhões. Os bens das indústrias de alimento, bebidas e fumo concorreram
sobremaneira para tanto, com superávit de US$ 28,6 bilhões e exportações de US$
33,7 bilhões. Os produtos madeireiros e de papel e celulose também contribuíram
positivamente. Por outro lado, o conjunto das indústrias têxtil, de vestuário,
couro e calçados, percebeu seu primeiro déficit em toda a série, déficit de US$
1,0 bilhão.
As medidas recentes adotadas pelo
governo apontam na direção correta, projetando inclusive espaços para a
correção de rumos. Em sentido amplo, o fato é que a estrutura produtiva deve
ser reforçada. Uma produção doméstica que engendre aprendizagem e confira
visibilidade a condições do Brasil para o investimento e produção pode
representar uma nova etapa da economia, casando a força do mercado interno, com
atendimento a padrões de exigência mundial para competir. O cenário externo é
adverso e há muito a ser feito: pinçar oportunidades, baratear o investimento,
incentivar a inovação e a produtividade devem ser objetivos perseguidos
incessantemente.
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