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Editor: José Trindade



terça-feira, 25 de outubro de 2011

A Importância de Aprofundar a Política Industrial: O Déficit de US$ 35 Bilhões nos Bens da Indústria de Transformação





Publicamos a Carta IEDI (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial: http://www.iedi.org.br/), sendo que já havíamos chamado atenção (PD13) para a relação Bens Industrializados/Bens Semielaborados. 

A Carta IEDI expressa o acerto das recentes políticas econômicas tomadas pela presidenta Dilma. O Plano Brasil Maior aponta na direção correta de enfrentamento da “guerra cambial” e da necessária proteção de setores importantes da indústria brasileira, porém ainda está incompleto, faz-se necessário aprofundar  política industrial para as diversas regiões, especificamente a Região Norte não apresenta nenhuma proposição ou política mais centrada. 

Por outro, as recentes posições de manter uma tendência de declínio da taxa de juros básica da economia (SELIC) e uma posição de maior autonomia do Banco Central em relação ao mercado financeiro devem ser saudadas.


Carta IEDI nº 490

A balança comercial brasileira dos bens típicos da indústria de transformação registrou o expressivo déficit de US$ 35,3 bilhões no acumulado dos três trimestres inicias de 2011, o que acena com um desequilíbrio no ano de quase US$ 50 bilhões (US$ 34,8 bilhões em 2010). Até então, o déficit mais elevado para períodos de três primeiros trimestres do ano no Brasil foi o registrado em 2010, quando o saldo ficou negativo em US$ 25,8 bilhões. O incremento significativo do déficit em bens típicos da indústria de transformação ocorreu paralelamente ao aumento do saldo positivo dos produtos da agropecuária, da extração mineral e outros mais – que chegou a US$ 58,3 bilhões nos primeiros três trimestres deste ano. Daí o saldo total da balança comercial brasileira ter alcançado US$ 23,0 bilhões no período.

Mas, mesmo que os produtos primários minimizem, do ponto de vista do resultado comercial brasileiro, o problema do déficit comercial dos bens da indústria de transformação, deve ser considerado outro ângulo da mesma questão, a saber: é flagrante o descompasso entre vendas do varejo nacional e a produção industrial interna, no qual as vendas vêm crescendo bem mais que a produção. Em parte relevante, isso é decorrência da chamada guerra cambial e do reconhecido diferencial entre as taxas de juros domésticas e as internacionais. O Plano Brasil Maior tenta dar conta desse contexto adverso para o setor produtivo doméstico, mas deve ser aprimorado visando a concatenar objetivos de médio e longo prazo para o País. Conferir um norte contundente nos intentos para um horizonte maior faz-se premente, ao sinalizar custos menores de investimento e produção e para esforços bem maiores em elevação da produtividade e inovação.

O comércio de bens da indústria de transformação por intensidade tecnológica, segundo o critério da OCDE, traz alguns detalhes relevantes até para a atuação governamental em prol do binômio investimento-produção:

Os bens produzidos por atividades de alta intensidade tecnológica observaram déficit sem igual para o período do ano em tela, de US$ 23,2 bilhões. Além dessa deterioração, suas exportações pouco tem se recuperado, atingindo US$ 6,7 bilhões. Notar que, além do conjunto dos bens do complexo eletrônico e dos produtos farmacêuticos – historicamente deficitários –, o intercâmbio de aeronaves e afins também ficou deficitário.

É na categoria de bens de média-alta tecnologia que o déficit mais se avoluma, atingindo US$ 38,3 bilhões nos três trimestres iniciais de 2011 – também patamar recorde. Tanto as vendas externas de bens da indústria automobilística, quanto as de bens de capital e mesmo as de produtos químicos cresceram, apesar da deterioração nos saldos. Mencione-se que o déficit em automóveis chegou a US$ 5,0 bilhões e o de produtos químicos a US$ 16,3 bilhões.

Já o segmento de média-baixa intensidade tecnológica ficou deficitário em US$ 5,6 bilhões em janeiro-setembro de 2011. Foi a segunda vez e seguida que os bens típicos desse conjunto de atividades apresentou déficit para tal acumulado do ano. A grandeza do déficit até caiu, por conta das exportações de US$ 17,9 bilhões de produtos metálicos, um patamar também recorde. Porém, os produtos de minerais não-metálicos registraram déficit na série. Dada sua baixa capacidade produtiva interna, os derivados de petróleo refinado, outros combustíveis e afins experimentaram déficit recorde, de US$ 11,2 bilhões. Como dado positivo, o comércio de embarcações obteve superávit de US$ 957 milhões.

A faixa de baixa intensidade tecnológica mais uma vez arrefeceu os efeitos dos déficits das demais faixas. O superávit sem igual na série, de US$ 31,8 bilhões foi puxado por exportações de US$ 45,2 bilhões. Os bens das indústrias de alimento, bebidas e fumo concorreram sobremaneira para tanto, com superávit de US$ 28,6 bilhões e exportações de US$ 33,7 bilhões. Os produtos madeireiros e de papel e celulose também contribuíram positivamente. Por outro lado, o conjunto das indústrias têxtil, de vestuário, couro e calçados, percebeu seu primeiro déficit em toda a série, déficit de US$ 1,0 bilhão.

As medidas recentes adotadas pelo governo apontam na direção correta, projetando inclusive espaços para a correção de rumos. Em sentido amplo, o fato é que a estrutura produtiva deve ser reforçada. Uma produção doméstica que engendre aprendizagem e confira visibilidade a condições do Brasil para o investimento e produção pode representar uma nova etapa da economia, casando a força do mercado interno, com atendimento a padrões de exigência mundial para competir. O cenário externo é adverso e há muito a ser feito: pinçar oportunidades, baratear o investimento, incentivar a inovação e a produtividade devem ser objetivos perseguidos incessantemente.

             

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