Por Daniel Rittner | De Brasília ( Do Valor Econômico)
As mudanças preparadas pelo governo
deverão triplicar a arrecadação com royalties cobrados nas atividades de
mineração. Os cálculos oficiais indicam que as receitas vão aumentar para mais
de R$ 3 bilhões por ano. A Compensação Financeira pela Exploração de Recursos
Minerais, conhecida como CFEM, gerou R$ 1,08 bilhão em 2010 e deverá alcançar
R$ 1,3 bilhão neste ano.
Com as mudanças, os royalties serão
cobrados sobre o faturamento bruto das empresas mineradoras, em vez do
faturamento líquido. Só essa alteração praticamente duplicará as receitas.
Dependendo da calibragem das novas alíquotas, o aumento poderá ser menor ou
maior, levando a arrecadação para perto de R$ 4 bilhões por ano. A tabela em
estudo atualmente prevê que a faixa dos royalties subirá para 0,5% a 6% - hoje
o piso é 0,2% e o teto é 3%. Os royalties sobre o minério de ferro, principal
produto de exportação do setor, deverão aumentar dos atuais 2% para 4%.
A previsão de crescimento da arrecadação
não leva em conta a cobrança de participações especiais, nos moldes das
aplicadas na indústria do petróleo, sobre jazidas minerais com alta
produtividade. O mecanismo exato de cobrança ainda não foi fechado, mas a
intenção do governo é que essas participações especiais afetem menos de 80 das
3 mil minas em produção hoje, como as de Carajás e do Quadrilátero Ferrífero do
Estado de Minas Gerais.
Os royalties e participações especiais
são objeto de um dos três projetos de lei que o governo prepara para modernizar
a legislação do setor. Os projetos se encontram em fase final de discussão na
Casa Civil e a própria presidente Dilma Rousseff, interessada no assunto, tem
acompanhado as tratativas. Eles serão encaminhados ao Congresso somente depois
que avançar a tramitação, na Câmara dos Deputados, do projeto recém-aprovado no
Senado que faz uma redistribuição dos royalties do petróleo.
"Cada momento com a sua
angústia", brinca uma fonte do governo. Segundo ela, o projeto de lei
apresentado pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG) não será aproveitado pelo
governo na Câmara, mesmo se for aprovado no Senado. "O governo tem sua
própria proposta. Se ele (Aécio) quiser dar suas colaborações, será muito
bem-vindo", comentou.
Além do projeto sobre royalties, o
governo enviará a proposta de um novo código de mineração, com regras gerais
para o funcionamento do setor. O prazo para a pesquisa mineral continuará sendo
de três anos (renováveis por outros três), como ocorre hoje, mas a empresa que
fizer um requerimento ao governo terá que se comprometer com um investimento
mínimo. A concessão da lavra mudará substancialmente. Em vez de explorar a
jazida indefinidamente, haverá prazo determinado. A ideia inicial era fixar
esse período em 35 anos, mas ele acabou sendo estabelecido em 20 anos,
prorrogáveis por mais 20. No Canadá e na Austrália, dois países com forte
atividade mineradora, os prazos são de 21 e 20 anos, respectivamente.
Não haverá nenhuma restrição para
empresas estrangeiras no novo código, a não ser a já vigente, na área de 150
quilômetros da faixa de fronteira. "Qualquer instância jurídica nos
derrubaria", avalia um funcionário do governo que lida diretamente com a
questão. Mas "condicionantes" impostas nos futuros contratos de
concessão deverão impor limites, na prática, a estrangeiros. Os contratos poderão
exigir uma fatia mínima de direcionamento da produção para o mercado doméstico,
por exemplo, tornando inviável a exploração de novas jazidas ou a compra de
empresas por estrangeiros que tenham como objetivo só abastecer seus mercados
de origem.
O governo pretende vetar, nesses
contratos, qualquer tentativa de exportação de potássio ou de fosfato, minérios
usados na produção de fertilizantes e dos quais o Brasil é forte importador.
Também deverá olhar com lupa a produção de terras raras, como o nióbio, minério
utilizado na fabricação de aços inoxidáveis e na indústria eletroeletrônica.
Em setembro, três empresas chinesas
anunciaram a compra de 15% do capital da Companhia Brasileira de Metalurgia e
Mineração (CBMM), maior produtora mundial de nióbio, por US$ 1,95 bilhão. Em
março, um consórcio de empresas japonesas e sul-coreanos já havia adquirido
outros 15% da CBMM, por US$ 1,8 bilhão. Os chineses também avançaram sobre
outras mineradoras brasileiras, como a Itaminas.
Um terceiro projeto transformará o
Departamento Nacional de Pesquisa Mineral (DNPM) em agência reguladora,
responsável por tarefas como autorizações de pesquisa, concessões de lavras e
elaboração de editais. Áreas com alto potencial de exploração mineral serão
leiloadas, em vez de autorizadas, como ocorre hoje.
O Ministério do Planejamento ainda
apontava alguns problemas na transferência de funcionários do DNPM para a
agência, mas os obstáculos foram contornados em reuniões nos últimos dias, no
Palácio do Planalto.
Ao definir a nova política de royalties,
o governo tentará estimular o beneficiamento de minerais no Brasil,
desincentivando as exportações com pouca agregação de valor. Outros três grupos
de minérios receberão tratamento diferenciado: os insumos minerais essenciais
para desenvolvimento da indústria nacional, como cobre e níquel; os minerais
não metálicos de fácil extração, que abastecem basicamente a construção civil,
como areia, brita, argila e calcário; e as substâncias escassas no solo
brasileiro usadas na produção de fertilizantes, como potássio, fósforo e
fosfato. Os materiais usados na construção civil deverão apresentar, inclusive,
redução das alíquotas cobradas atualmente. A definição das tabelas será feita
por meio de decreto presidencial, posterior à aprovação do novo marco
regulatório.
COMENTÁRIOS PD13
Esta questão é de
grande importância. De uma maneira geral, tem sido mal tratada e pouco
debatida. Consideramos que a proposição que vem sendo amadurecida pelo governo
federal tem vários pontos positivos, dois deles já há muito tinham sido
proposto no Senado Federal pela então Senadora Ana Júlia: a base de incidência
passar a ser a base bruta, portanto maior e com menor possibilidade de
possíveis "dribles" das empresas sobre a cobrança de CFEM e; por outro
a banda de alíquotas ser maior que a atual.
Naturalmente, o
projeto do Governo Federal não é de todo o que desejamos, mas de fato há
avanços importantes. Alguns problemas permanecem, um deles a própria gestão do
DNPM que, dificilmente se resolve com a transformação do mesmo em Agência.
Outra questão fundamental refere-se ao futuro. A Indústria Mineral gera no
curto prazo, dinâmica muito forte no espaço localizado no Sul do Pará, cumpre
ao conjunto de atores sociais envolvidos aproveitar a atual dinâmica para
estruturação e viabilização de plano de desenvolvimento local, sendo a CFEM a fonte
de financiamento por excelência de um modelo de desenvolvimento que supere os
limites do extrativismo mineral, o que para tanto configura-se com
urgência o necessário planejamento do desenvolvimento local como componente
básico para conformação de um plano de desenvolvimento estratégico para a
região.
A questão do royalties é uma das disputas mais importantes no CN. Minha posição é semelhante! Parabéns.
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