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Editor: José Trindade



sábado, 7 de maio de 2011

Quatro gráficos, duas épocas, dois séculos e muito a se pensar

Por José Trindade e Wesley Oliveira
“Daí, em grande parte, a paralisia completa das gentes que ali vagam, há três séculos, numa agitação tumultuária e estéril” (Euclides da Cunha em Amazônia: terra sem história).






O Pará sempre foi à dita terra da promissão, até religiosamente assim a fazemos e os de fora assim nos enxergam. Religiosidade a flor da pele, baixa coordenação de suas elites, grande exclusão social e uma história fugaz. Resolvemos comparar gráficos de duas épocas em que o Pará se destacou como maior província exportadora líquida da economia brasileira, a fim de acentuar o quanto as atuais condições e modelo de desenvolvimento estabelecido são preocupantes e necessitam de alteração de rumos, algo somente iniciado no governo estadual petista.

O gráfico abaixo ilustra de forma precisa o significado do chamado Ciclo da Borracha para a sociedade e economia paraense na virada do século. A fase de expansão gomífera, com destaque ao final do século XIX, foi marcada na Amazônia como um período de ouro, a Belle Époque. Certamente, os ganhos e investimentos eram restritos aos exportadores de borracha e Belém e Manaus eram os centros concentradores de toda a riqueza gerada na extração gomífera. Toda a riqueza do período deve-se ao fato de a Amazônia ser praticamente o único lugar do mundo com produção de borracha. Como a demanda mundial pelo produto estava em constante aumento devido, principalmente, ao desenvolvimento da indústria automobilística, as exportações só aumentavam.

Conforme se pode observar, a exportação da borracha teve no período 1890-1910 seu momento áureo. O ano de pico da série foi em 1912, com quantidade exportada acima de 42 mil toneladas de borracha. A partir daí o que se observa são quedas na quantidade exportada que só viria a apresentar elevações (menos intensas) na segunda metade da década de 1920 e durante a II Guerra Mundial.


   Gráfico 1 - Exportações brasileiras de borracha, 1850-1970
   Fonte: Estatísticas do Século XX, IBGE (2003).

Para reforçar a relevância da borracha no cenário nacional, o Gráfico abaixo mostra que a exportação de borracha só aumentava no começo do século XX. Em 1901, o produto já tinha participação relevante nas exportações brasileiras (21%), e nos seguintes foi só aumentando, de tal maneira que em 1910 chegou a representar 40% de tudo que era exportado pelo país. Tecendo um comparativo com a exportação do café, principal produto de exportação, observa-se que em 1910 os dois tinham praticamente a mesma participação nas exportações do país (40% borracha contra 41% de café).


Gráfico 2 - Participação da exportação de borracha e café na balança comercial do Brasil: 1901-1920
  Fonte: Estatísticas do Século XX, IBGE (2003).
  Elaboração própria.


Cem anos de solidão se passaram desde então, entre 1910 e 2010 aprofundou a inserção econômica capitalista na Amazônia, com as repercussões naturais daí decorrentes: crescente desmatamento e baixa inclusão social da população que por aqui se assentou. Passados esses cem anos um novo Ciclo exportador caracteriza o mundo amazônico.

No ano de 2010, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), o minério, principal item das exportações brasileiras, gerou receita próxima a 31 bilhões de dólares, sendo que o ferro representou 94% dessa receita, ou seja, quase 29 bilhões de dólares.


   Gráfico 3 - Exportação Paraense de Minério de Ferro (1996/2009)
























Considerando os dados disponíveis e, principalmente, o Índice de Quantum (evolução proporcional preço e quantidade do produto exportado) que cresce exponencialmente no período considerado, mesmo no ano de crise de 2009 a exportação paraense de minério de ferro cresce expressivamente, pode-se afirmar que nos últimos dez anos a participação estadual na exportação brasileira dessa commodity é superior a 30%, sendo a qualidade do minério de Carajás necessária ao mix do produto exportado pelo país.

A atual balança comercial paraense fecha nossas ilustrações, como o leitor pode observar na figura baixo, o Pará se caracteriza novamente como grande exportador líquido do Brasil. Entre 1996-2010 a balança comercial paraense sempre foi superavitária, atingindo, em 2008, saldo de quase US$ 10 bilhões, repetindo-se em 2010, com pequena queda no ano de 2009.

   Gráfico 4 - Balança comercial do Estado do Pará, 1996-2009
 Fonte: Mdic.


Vale frisar os pontos em comum de duas épocas tão diferentes: i) a base econômica é extrativista; ii) apresenta baixa capacidade de diferenciação industrial e inclusão social; iii) tem baixa capacidade tributária; iv) elevada capacidade exportadora; v) apresenta baixo nível de planejamento com vistas ao desenvolvimento estadual futuro. Em outras palavras a exemplo do ciclo gomífero e suas consequências, a sociedade e a economia paraense de hoje permanecem reféns do seu próprio tempo, mediato e incapaz de pensar o futuro.









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