Por José Trindade
Estive pessoalmente
presente em dois dos sete encontros distritais do Partido dos Trabalhadores de Belém,
especificamente participei dos encontros do DAENT (Entroncamento), onde me
encontro filiado e no DAGUA (Guamá).
A escolha de
participação nesses dois encontros não foi aleatória: são os dois maiores
distritos e onde o possível grau de polarização e efervescência do debate
seriam maiores. De fato os debates foram ricos, por mais que haja sempre certa
impressão que desaprendemos um pouco de fazer política direta, com participação
“na veia” de militantes e o debate mais acirrado, mesmo que fraternal.
Em 1985 o PT do Pará e
de Belém estava dando seus primeiros passos, isso após um processo de
construção no início da década de 1980 bastante tumultuados. Naquele ano de
1985 uma das maiores correntes de esquerda até então no interior do antigo MDB
(Movimento Democrático Brasileiro), a contrassenha do partido governamental
Arena (Aliança Renovadora Nacional), que com a reforma partidária de 1979
tinham se convertido respectivamente no PMDB e PDS, decidiu coletivamente
entrar na construção do PT.
No caso de Belém o
ingresso do PRC (Partido Revolucionário Comunista) no PT, assim como a fusão de
grupamentos de tendências da assim chamada “esquerda revolucionária” implicava no
fortalecimento desses grupamentos que reivindicavam a tradição marxista na
estrutura local do Partido dos Trabalhadores. Vale observar que o PRC e o MCR
(Movimento Comunista Revolucionário) passaram a ter grande influência no PT
municipal.
Em 1985 o intenso
debate na “Pré-convenção”, realizado naquele ano no ginásio de educação física
da UFPA com a presença de mais de mil militantes, apontou a primeira chapa petista
realmente capaz de disputar a prefeitura de Belém. O então vereador Humberto
Cunha foi nosso candidato, tendo um programa que pela primeira vez fazia
referência à construção de um projeto Democrático e Popular.
Desde aquele ano até
1995 quando o PT elege pela primeira vez um gestor municipal, o fortalecimento
da capacidade partidária foi grande, sendo que neste interim passamos por experiências
importantes como a única greve realmente geral que se teve no Brasil, em 1987,
as experiências de mobilização por direitos sociais na Constituinte de 1987 e a
construção de uma Constituição que por mais que ainda limitada, porém a mais
avançada da história brasileira.
O PT entrou na década
de 1990 como o único partido com programa nacional, disputando e quase elegendo
Lula em 1989. Em Belém, o PT passa a deter forte influência, com a eleição de
vereadores e deputados estaduais com base na capital do estado. Desde meados da
década de 1990 o partido passar a convergir percentual expressivo do eleitorado
metropolitano, ficando nas últimas quatro eleições sempre com uma média
superior a 18% do eleitorado efetivo.
As prévias desse ano
refletem três aspectos:
i) Reflete a derrota eleitoral
de 2010, o que obviamente colocou com seu resultado um maior fracionamento dos
grupos de poder partidário e o ressurgimento de novas proposições;
ii) Reflete a disputa
entre posições mais autocráticas, aquelas que eram, por exemplo, contrárias às
prévias, e as posições mais liberais e estruturantes do partido;
iii) Finalmente, “bust
no last”, reflete um “grande chacoalhamento” da militância e das direções partidárias,
não no sentido do importunamento e sim da busca de alternativas e de
recolocação do partido pós-2010.
Vale, por último,
algumas observações em relação ao processo como um todo.
Primeiramente, a
oportunidade, seja no período, seja na rapidez com que foi organizado, seja
pelo intenso debate gerado nas redes sociais e no campo real nos distritos
administrativos, cumpriu papel insigne de demonstração de vigor partidário e de
posicionamento social do PT de Belém.
Segundo, a capacidade
demonstrada pelas diversas correntes de aderirem ao esforço comum, demonstra,
antes de tudo, uma lógica de unidade partidária que “mete medo” e pontifica
respeito às três direitas organizadas no Pará e em Belém (PSDB/DEM/PSD, PTB/PR,
PPS).
Definitivamente está colocada ao PT a tarefa de
retomar Belém do atraso e do “balcão de negócios” da direita mafiosa, e ser a
força chave para dirigir a frente de esquerda que irá novamente governar a
Cidade das Mangueiras!
Minha percepção é que a esquerda brasileira se apequenou. O PSOL é uma imagem futurista, não dialoga e nem concebe o Brasil, muito menos o Pará ou Belém. O PT me parece distante de uma capacidade programática que, infelizmente, ele parece negar: não é socialista, tão pouco consegue se colocar contrário ao mísero sistema capitalista. O PC do B continua sua eterna vocação reformista. O que fazer? Talvez nem um "Lenin" reencarnado nos ajude...!
ResponderExcluirPrezado, não me parece que seu desencantamento contenha verdades, digo para o que eu, pessoalmente, penso, o que pensas respeito e paciência. Considero as experiências partidárias da esquerda brasileira extremamente ricas e necessárias ao desenvolvimento e construção de uma sociedade que minimamente converge em diálogos e anseia a radicalização da democracia.
ResponderExcluirEm relação ao PSOL e PC do B não responderei, em relação ao PT julgo que caminha em trajeto muito propriamente brasileiro, como pensava Sérgio Buarque ou Caio Prado, relevos inconformes, mas próprios de uma nação no qual as classes senhoriais até quase início do século XX viam as diferenças raciais como condições naturais e que a tal "abolição da escravatura" representou, antes de tudo, senha para uma tentativa "esbranquiçamento" da "sociedade nacional".
Veja você, aqui pela amazônia as coisas ainda são mais conservadoras. A elite comercial se mantém insigne a frente do permanente projeto de apropriação patrimonial do Estado.
Pondero, prezado (a), que a dificuldade é grande, mas creio que a luta da esquerda democrática e socialista requer que os esforços, em torno do PT, una aliados históricos, alguns saídos do próprio PT, para reconstruirmos a governabilidade dessa grande coletividade chamada Belém.