Por José Trindade
O capitalismo enfrenta
sua mais grave crise dos últimos 60 anos. A rápida escalada em que os
desencontros da crise de superprodução em alguns setores e países, aliada a
financeirização e a crescente desregulação econômica, produz quadro clínico no
qual o “enfermo” parece cada vez mais caminhar-se para uma septicemia, quadro
generalizado de infecção e no qual as doses de fortíssimo antibiótico parece
não fazer efeito.
Nos últimos cinquenta
anos o capitalismo aprendeu com as crises do início do século, em geral buscou
desenvolver uma armadura institucional que, em diferentes graus conforme o país
possibilitou o que o professor Eric Hobsbawm denominou em seu esplêndido “Era
dos Extremos” de “Golden age”, uma idade de ouro do capitalismo e para certa
parte da humanidade. Conforme o próprio Hobsbawm não mais que um terço ou
talvez menos da humanidade pode de fato “curtir” plenamente esse período.
Essa idade do ouro
entra em crise já no final do século XX, talvez a “quente” década de 1970 seja
o primeiro momento de “surtos” recorrentes de crise capitalista. Certa teoria
de “saltos críticos” pode ser a explicação. Na medida em que a “armadura institucional”
pode ter rupturas, ou o que talvez explique melhor, a rigidez produzida foi
questionada por parte importante das “classes burguesas”, especialmente os
segmentos vinculados ao andar das finanças.
O parcial desmonte ou
fissura da “armadura institucional” recolocou em novos níveis e com formato
distintos as crises clássicas de superprodução e inaugurou, desde então, novas formas
de crise, desde a centrada nos fenômenos de desvalorização monetária (décadas
de 70/80) até as crises centradas no chamado capital fictício, ou seja,
referentes à desvalorização de títulos de diferentes origens. Aspecto
fundamental é que o aprofundamento do atual tipo de crise leva a questionar a
própria base da pirâmide de créditos, onde se encontram os títulos da divida
pública das economias capitalistas centrais.
Importante livro foi
lançado neste clima de crise capitalista global: Como Mudar o Mundo – Marx e o
Marxismo, do prof. Eric Hobsbawm, trabalho de fôlego que identifica na construção
teórica marxista momento privilegiado de análise racionalista do
desenvolvimento social humano.
Hobsbawm possibilita
aos leitores um breve passeio pelo central da análise marxista, demonstrando
não somente a atualidade do “demônio de Trier”, como também confirmando, com a
história de que “convém duvidar de tudo”, o lema predileto de Marx.
Os textos de Hobsbawm são como muitos reconhecem
magnificamente bem escritos e, ponto notável, a tradução de Garchagen é
magnífica. Vale reforçar dois capítulos, a meu ver, especialmente
interessantes: o capítulo 7 “Marx e as formações pré-capitalistas”,
especialmente interessante para a compreensão das transições entre “modos de
produção”, algo importante a se aprender da história é como a humanidade
permanentemente “reinventou” seu processo reprodutivo econômico e social.
Por
outro, o capítulo 12 é o único texto dedicado exclusivamente a um teórico
pós-Marx: Antônio Gramsci. O autor italiano foi, segundo Hobsbawm, um “clássico”
per se, sendo sua leitura se faz imprescindível porque “entre os teóricos
marxistas, foi ele quem percebeu com maior clarividência a importância da
política como uma dimensão especial da sociedade e porque ele compreendeu que a
política envolve mais do que o poder”.
Nestas épocas de definições imprecisas e
de capitalismo moribundo, mais do que nunca convém estudar a história, melhor
ainda sob as lentes telescópicas de Marx.
artigo de utilidade pública, valeu zé.
ResponderExcluirFale Mestre Tarcisio, espero que possamos continuar tratando do abstrato ao real...Valeu!
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