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Editor: José Trindade



sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O Mundo Deve Mudar


Por José Trindade

O capitalismo enfrenta sua mais grave crise dos últimos 60 anos. A rápida escalada em que os desencontros da crise de superprodução em alguns setores e países, aliada a financeirização e a crescente desregulação econômica, produz quadro clínico no qual o “enfermo” parece cada vez mais caminhar-se para uma septicemia, quadro generalizado de infecção e no qual as doses de fortíssimo antibiótico parece não fazer efeito.



Nos últimos cinquenta anos o capitalismo aprendeu com as crises do início do século, em geral buscou desenvolver uma armadura institucional que, em diferentes graus conforme o país possibilitou o que o professor Eric Hobsbawm denominou em seu esplêndido “Era dos Extremos” de “Golden age”, uma idade de ouro do capitalismo e para certa parte da humanidade. Conforme o próprio Hobsbawm não mais que um terço ou talvez menos da humanidade pode de fato “curtir” plenamente esse período.

Essa idade do ouro entra em crise já no final do século XX, talvez a “quente” década de 1970 seja o primeiro momento de “surtos” recorrentes de crise capitalista. Certa teoria de “saltos críticos” pode ser a explicação. Na medida em que a “armadura institucional” pode ter rupturas, ou o que talvez explique melhor, a rigidez produzida foi questionada por parte importante das “classes burguesas”, especialmente os segmentos vinculados ao andar das finanças.

O parcial desmonte ou fissura da “armadura institucional” recolocou em novos níveis e com formato distintos as crises clássicas de superprodução e inaugurou, desde então, novas formas de crise, desde a centrada nos fenômenos de desvalorização monetária (décadas de 70/80) até as crises centradas no chamado capital fictício, ou seja, referentes à desvalorização de títulos de diferentes origens. Aspecto fundamental é que o aprofundamento do atual tipo de crise leva a questionar a própria base da pirâmide de créditos, onde se encontram os títulos da divida pública das economias capitalistas centrais.

Importante livro foi lançado neste clima de crise capitalista global: Como Mudar o Mundo – Marx e o Marxismo, do prof. Eric Hobsbawm, trabalho de fôlego que identifica na construção teórica marxista momento privilegiado de análise racionalista do desenvolvimento social humano.

Hobsbawm possibilita aos leitores um breve passeio pelo central da análise marxista, demonstrando não somente a atualidade do “demônio de Trier”, como também confirmando, com a história de que “convém duvidar de tudo”, o lema predileto de Marx.

Os textos de Hobsbawm são como muitos reconhecem magnificamente bem escritos e, ponto notável, a tradução de Garchagen é magnífica. Vale reforçar dois capítulos, a meu ver, especialmente interessantes: o capítulo 7 “Marx e as formações pré-capitalistas”, especialmente interessante para a compreensão das transições entre “modos de produção”, algo importante a se aprender da história é como a humanidade permanentemente “reinventou” seu processo reprodutivo econômico e social. 

Por outro, o capítulo 12 é o único texto dedicado exclusivamente a um teórico pós-Marx: Antônio Gramsci. O autor italiano foi, segundo Hobsbawm, um “clássico” per se, sendo sua leitura se faz imprescindível porque “entre os teóricos marxistas, foi ele quem percebeu com maior clarividência a importância da política como uma dimensão especial da sociedade e porque ele compreendeu que a política envolve mais do que o poder”. 

Nestas épocas de definições imprecisas e de capitalismo moribundo, mais do que nunca convém estudar a história, melhor ainda sob as lentes telescópicas de Marx.

2 comentários:

  1. artigo de utilidade pública, valeu zé.

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  2. Fale Mestre Tarcisio, espero que possamos continuar tratando do abstrato ao real...Valeu!

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