Reproduzimos texto de articulista
do Valor Econômico desta quinta-feira (17/11), o texto refere-se a divulgação
dos "Objetivos do Milênio", o infográfico que segue é bastante interessante.
Por Daniela Chiaretti | De São
Paulo
Não importa em qual dos nove
países esteja, a região amazônica compartilha os mesmos problemas. No geral, os
indicadores sociais da Amazônia estão sempre abaixo das médias nacionais e
revelam defasagens crônicas. O analfabetismo está acima do limite que a Unesco
define como crítico, a desnutrição atinge um quarto das crianças e a incidência
de tuberculose no Peru e na Bolívia é a mais alta do mundo. Na Amazônia, as
dificuldades são comuns e invadem fronteiras.
Esses dados fazem parte do
primeiro grande diagnóstico da região já produzido. Trata-se do estudo "A
Amazônia e os Objetivos do Milênio", elaborado por oito ONGs da América
Latina e lançado ontem à noite, em Belém, durante o seminário "Cenários e
Perspectivas da Pan-Amazônia", realizado pelo Fórum Amazônia Sustentável,
articulação brasileira de populações ribeirinhas, indígenas e urbanas, além de
empresas e sindicatos. O seminário também é realizado pela Articulação Regional
da Amazônia (ARA), associação de 40 ONGs da América Latina. Pesquisadores de oito
entidades fizeram o diagnóstico amazônico com patrocínio das fundações Avina e
Skoll.
Na Amazônia, distribuídas pelos
nove países, moram mais de 34 milhões de pessoas, diz o estudo. Há 375 povos
indígenas. Essas pessoas vivem em uma área de quase 7,8 milhões de km2 ou 44%
da América do Sul. O Brasil tem 64,3 % da região, seguido pelo Peru (10,1%) e
Colômbia (6,2%).
O PIB per capita é de US$ 5.507
ao ano. O da Amazônia brasileira bate em US$ 6.128. A Bolívia tem a renda mais
baixa. A mais alta é a da Guiana francesa, com mais de US$ 18 mil, mas esse
dado é distorcido pelos gastos com a base europeia de lançamento de foguetes. É
na Amazônia venezuelana que está o PIB per capita mais alto da região toda -
US$ 9.259.
"Trabalho na Amazônia há 26
anos", diz Adalberto Veríssimo, pesquisador-sênior do Instituto do Homem e
Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), um dos mais respeitados centros de pesquisa
da floresta. "Nunca vi um relatório publicado sobre a região com esse tipo
de abrangência."
A afirmação pode soar cabotina -
o Imazon é um dos autores do estudo e assina os dados do Brasil -, mas a
carência de informações sobre a Amazônia, principalmente quando se sai do
Brasil, é desoladora. "Quando se cruza a fronteira", continua ele,
"a Amazônia é uma grande desconhecida."
O trabalho rastreou os parâmetros
criados pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2000 para orientar
investimentos e melhoras nas condições socioeconômicas dos países em saúde,
educação, renda e condições de vida, com foco em 2015. São os Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio, conhecidos por ODM. Entre as nove metas avaliadas,
apenas uma foi alcançada entre todos os países - a que diz que é preciso
eliminar as diferenças entre os sexos na educação. A maioria dos indicadores
melhorou, da década de 90 a hoje. Mas são melhoras tímidas.
Em alguns países, a desnutrição atinge um quarto da população infantil e a vulnerabilidade é maior para os povos indígenas. As maiores taxas encontram-se no Peru (24%) e na Bolívia (21%).
O analfabetismo na Amazônia está
acima do limite internacionalmente considerado crítico, que é de 5%. Na
Amazônia brasileira, é mais do que o dobro (11%) e na boliviana, 17%. É naquela
região da Bolívia, também, que a mortalidade infantil é mais alta do que a das
regiões mais pobres do mundo (73 casos por mil nascidos vivos). A menor taxa
nesse quesito, entre os nove países da região, é a da Guiana Francesa, com 10
casos por mil. Só a Venezuela conseguiu diminuir o índice em dois terços em
relação a 1990, como está na meta da ONU. Mas ali há contradições - entre os
índios venezuelanos, a mortalidade infantil é dez vezes maior que a média do
país.
O desmatamento aumentou em todos
os países, à exceção do Brasil. A região sofre com pobreza, desigualdade de
renda e problemas graves de saúde, como malária e tuberculose. As mulheres têm
pouca participação na política. A taxa de mortalidade materna aumentou. Na
região que tem mais recursos hídricos do mundo, o acesso à água potável e o
saneamento básico é precário. "Conhecer melhor a Amazônia é
estratégico", diz Veríssimo. "Temos que entender as pressões que
estão em curso na região, as oportunidades e trocar experiências."
Nenhum comentário:
Postar um comentário