Espaço de debate, crônica crítica do cotidiano político paraense e de afirmação dos pressupostos de construção de um Pará e Brasil Democrático e Socialista!

Editor: José Trindade



quarta-feira, 17 de novembro de 2010

CONTRIBUIÇÃO AO DEBATE: ELEMENTOS INICIAIS PARA ENTENDIMENTO DA DERROTA ELEITORAL (I)

“...é preciso [O Principe] que ele tenha um espírito disposto a voltar-se segundo os ventos da sorte e as variações dos fatos o determinem e,... não apartar-se do bem, podendo, porém, saber entrar no mal, se necessário.” (Maquiavel).

Com a pós eleição convém construir análise construtiva, porém crítica, quanto ao processo eleitoral e, obviamente concatenado, elementos iniciais de um balanço de governo. Vale lembrar desde já que toda construção coletiva necessariamente está sujeita a avanços e retrocessos, sendo que os erros devem ser levantados para futura correção de rumos e os acertos ponderados enquanto ganhos sociais (e políticos) a serem defendidos. Como já exposto por outro articulista os acertos foram numerosos e importantes para a sociedade paraense, porém os erros foram diversos e prejudiciais a continuidade do projeto.
O texto que segue tem dois objetivos: i) iniciar debate franco e construtivo interno ao PT-Pará, colaborando no processo que deve ser exaustivo enquanto objetivação de frutos para construção de uma tenaz oposição aos setores mais atrasados da sociedade paraense encastelados no PSDB/DEM; ii) fazer proposições a serem avaliadas e, se assim forem julgadas, utilizadas nos encaminhamentos de construção partidária e de política para o Estado do Pará.
Esse texto inicial constrói balanço em sete pontos: a) a vitória de 2006: qual o significado e a constituição da oposição psdebista no estado; b) o núcleo de governo: abrangência política e erros de conformação; c) a disputa no interior do núcleo próximo a Governadora; d) as relações internas do PT: a dificuldade de construção de discurso de consenso; e) a relação com o PMDB: a dificuldade de construção de uma frente única para governar o Pará; f) as dificuldades de administração: as relações entre a tecnoburocracia e a nova gestão governamental; g) a agenda mínima que foi proposta.
A derrota em 2006 levou a um parcial esfacelamento partidário do PSDB, originando o PR e fortalecendo o PMDB. A configuração originalmente resultante do processo eleitoral de 2006 tinha duas marcas importantes: o aparente isolamento dos quadros políticos principais do udenismo local, especialmente Almir e Jatene e a construção de uma frente partidária com grande potencial de governabilidade (PT e PMDB). O aparente esfacelamento do PSDB gerou um clima de forte empoderamento do núcleo gestor em torno da Governadora eleita, o que suscitou o enfraquecimento da tônica mais estruturante da frente partidária, o que já foi acertadamente exposta enquanto “ilusão de auto-suficiência política”.
Vale registrar dois movimentos de enorme significância: as ações da oposição passam a se dar via, principalmente, senado federal, sendo que os dois senadores psdebistas articulam seus discursos enquanto caixa de ressonância da oposição midiática local; conforma-se um núcleo de governo bastante restrito, estabelecendo frágil arco de forças de proteção em torno de Ana Júlia.
Tudo leva a crer que as relações de poder político tinham sido estabelecidas entre o núcleo do PSDB e parcela importante da grande mídia: a escolha pontual de fatos que possibilitem “sangrar” a capacidade política do governo recém empossado se converte em estratégia pensada e executada desde há primeira hora. Maniqueísmo? Parece que não, se não vejamos o episódio de Abaetetuba no nascedouro do governo. A repercussão construída desde noticiário local e a reverberação no senado possibilitou o primeiro desgaste e em área de enorme sensibilidade.
O núcleo de decisão que originalmente se conforma, peca por duas restrições que, para qualquer analista político menos desavisado parece ser primário: não abrange a totalidade das maiores correntes petistas e não se interessa de comungar decisões com os aliados que, mesmo conjunturais, porém representa enorme peso nos condicionantes locais, inclusive e principalmente disputa na grande mídia, o que possibilitaria um pacto de governabilidade intra e extra-partidário.
O problema do “vanguardismo” do núcleo decisório não nos parece algo inédito, nem tampouco compreende uma percepção por assim dizer pensada e executada, foi muito mais resultante da “política real”. Claro está que em qualquer experiência futura esse tipo de erro deve desde sempre ser evitado, além do que a capacidade de divisão de ônus, em um governo nitidamente de esquerda frente uma realidade com fortes setores conservadores, é fundamental, seja para proteger o “patrimônio político” resultante do processo eleitoral, seja para futuros enfrentamentos.
Aspecto de grande importância a ser assinalado refere-se ao consenso interno do PT, se por um lado o núcleo dirigente restrito impôs um clima de pouco conforto na relação partidária, por outro o afastamento das principais lideranças partidárias para exercício administrativo ou parlamentar, fragilizou a interação da base partidária (militância) com o exercício de pressão sobre o governo. Vale destacar, ainda, que a ausência desses nexos políticos afastou a militância partidária do próprio debate dos rumos do governo facilitada pela ultracentralização já ponderada.
Se as relações partidárias internas foram problemáticas, mais ainda o relacionamento com as demais forças, especialmente o PMDB. Deve-se observar que esse partido se guia, desde sempre, por forte concepção de liderança, sendo que qualquer atenuação deste aspecto produz atrito e convergem as disputas para o jogo miúdo das decisões orçamentárias. O não entendimento do perfil de relação a ser construído com o PMDB levou a um ziguezague, ora sendo tomado como aliado, ora como oposição, condição piorada pelo temor da ruptura definitiva, que fez com que até o segundo turno do processo eleitoral diversos cargos de primeiro escalão fossem mantidos no controle daquela força partidária.
Ao considerarmos o núcleo de governo não há como negligenciar o desgaste oriundo da disputa interna ao mesmo, seja pelo negligenciamento da disputa central, frente à tese de uma “oposição sem expressão”, seja pelo forte ranço ideológico que assume o debate em torno de alguns temas, como o PTP, por exemplo, seja, finalmente, por uma antecipação estarpafúdia da sucessão governamental ou, em menor grau, das eleições para os cargos legislativos de 2010. A perda paulatina de substância no entorno da Governadora alimentou em outros meios a capacidade de aglutinação de forças e a continuidade da tática de “guerrilha” de sangramento utilizando o quarto poder midiático.
Devemos abstrair aos poucos dos componentes somente políticos da governabilidade e atentarmos para aspecto de grande importância para execução das políticas governamentais: a relação da gestão política com a tecnocracia do Estado. O conjunto de técnicos que controlam os mecanismos de direção, coordenação, previsão e reavaliação das decisões constitui a referida tecnocracia. O baixo entendimento, por parte da maioria dos novos gestores, que necessitava construir acordos e relação com essa tecnocracia acabou por enrijecer a execução de atividades em diversos organismos. Por outro, o tempo de domínio político (doze anos) do PSDB estabeleceu forte controle do “modo operante” tucano sobre esta faixa técnica gerencial. Os recentes concursos e a engenharia institucional montada em torno da SEGOV romperam em parte esse controle, porém muito aquém da necessidade requerida.
Por último, porém de grande impacto no imaginário social, a eleição da agenda mínima de políticas públicas a serem executadas. Aqui pecamos pela audácia e dificuldade de comunicação das proposições. A agenda mínima baseada na reestruturação do padrão de desenvolvimento, apontando a inclusão tecnológica e o redimensionamento industrial do estado, são todos pontos necessários e indiscutíveis, o problema é como esses fatores se integram em termos discursivos com a agenda social. Não há como negar a dificuldade da nossa comunicação com a sociedade, mais ainda tratando-se de construir no imaginário popular a defesa de um novo padrão social de desenvolvimento, ou pelo menos seus primeiros elementos.
Os textos seguintes deverão se concentrar em três aspectos: i) os ganhos sociais e políticos do governo que se encerra; ii) os problemas enfrentados no processo eleitoral; iii) as proposições quanto a construção e encaminhamentos de uma oposição democrática e popular ao udenismo psdebista.
PROPOSTA DEMOCRATICA 13


5 comentários:

  1. Toda a derrocada política assemelha-se ao dia seguinte de um sismo. As fendas abertas pela incúria coletiva (às vezes, apuradas individualmente seguida do castigo adequado...) movimentam as placas tectônicas acumulando incontrolável energia destrutiva que termina, em persistente evolução, produzindo o TERREMOTO POLÍTICO. Ao sismo – segue-se a derrota eleitoral e suas conseqüências de curto, médio e longo prazo: tristeza, remorso, desalento, defecções, cisões e evasões. O que fazer? Descobrir e apontar o quê de cada uma das seguintes (e outras) placas tectônicas: COMANDO, LIDERANÇA E CONTROLE, UNIDADE E DISCIPLINA DA EQUIPE DE 1º ESCALÃO VERSUS ARBITRAGEM DO GOVERNANTE (bate martelo), CORAGEM CÍVICA DE SEUS ASSESSORES (DIREITO DE DISCORDAR AO INVÉS DE BANCAR VAQUINHA DE PRESÉPIO); PLANO ESTRATÉGICO DE GOVERNO (?); UNIDADE INTRA E INERPARTIDÁRIA, RESPEITO E CONFIANÇA MÚTUA AOS ALIADOS, BUROCORACIA E SEUS VIÉSES DE CONFLITO E (DES) LEGITIMAÇÃO, RELAÇÕES DE GOVERNABILIDADE (EXECUTIVO X LEGISLATIVO); GOVERNANÇA E COMUNICAÇÃO, SIGILO X DIVULGAÇÃO DE PESQUISAS DE OPINIÃO EM TEMPO DE ASSUSTAR A ELITE E A MASSA PARTIDÁRIA EVITANDO O CASUISMO PARA MAXIMIZAÇÃO DE VOTO. DEMONSTRAÇÃO ADEQUADA OU EXAGERADA DA FORÇA ELEITORAL PETISTA FRENTE AOS PARTIDOS ALIADOS E DESAFIANTES.... FALTA DE EDUCAÇÃO, ARROGÂNCIA, PEDANTISMO, FALHAS DE CARÁTER E OUTRAS PATOLOGIAS DOS RETARDOS IDEOLÓGICOS DA MILITÂNCIA.

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  2. É importante que seja feita uma profunda avaliação dos resultados das eleições para governador, não dissociada das eleições dos demais cargos em disputa este ano, é importante tentar buscar reflexos de como foi nossa eleição a 4 anos atrás.
    Conserteza nossa vitória a quatro anos atrás, teve disversos motivos, posso cvitar alguns a pessoa de Ana Júlia, que mesma com perna imobolizada, encarnou uma parcela do povo lutador (nossas raízes cabanas); a imagem das administrações Edilson Rodrigues e Lula entre outros.
    O início do governo, tivemos erros primários e de uma ingenuídade, ao fazer aliança com PMDB (que chantageou o tempo todo), e não saber responder com rapidez as pegadinhas midíaticas, que desgastaram.
    Não reconhecer como uma características dolosa de nossa terra o "machismo", que de diversas formas, se expressa em nosso dia a dia, e inclusive facilita inumeros desvios de conduta (pedofilía, violência contra mulher, prostituição). A imagem de Ana mexe e ameaça este "valor hegemônico" de muitos homens e mulheres paroaras.
    Temos uma frágil formação política de alguns "quadros" do Partido, com pouca ligação com os movimentos sociais, uma visão arraigada aparelhista e em muitos casos autofagica.
    Voltando para as eleições deste ano, chamou minha atenção três fatos, que são os seguintes:
    1- O Aumento das bancadas de deputados estaduais e federais.
    2- A estratégia da aliança "branca" para o senado, onde se preservou os concorrentes, não foi dito que a Lei Kandir que isenta vale foi elaborada por um parlamentar do PSDB no gov. de FHC, que Jader votou nela. Que Flexa ajudou derrubar a CPMF e falava que vai trazer recursos para hospitais.
    3- Durante o Governo,e na campanha se reproduziu um pouquissímo combate ideológico, não polarizamos realizações como Navega que usa software livre; que a criãção de novos estados, quem esta portrás e Vale?Bradesco e as grandes Mineradoras, querem uma Valelândia.
    Companheiros além dos erros das alianças com Dulciomar e Almir Gabriel, principalmente pela forma e métodos que foram feitas, poucos decidindo, estás desarmaram nossos militantes mais ideológicos.
    Atenciosamentew

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  3. Prezado Waldemar, consideramos que diversos dos elementos expostos por você estão corretíssimos. Como adiantamos, iremos realizar ainda, avaliação do processo eleitoral em si. Podemos, entretanto, adiantar que de fato pecamos no processo eleitoral com erros primários, exemplo o não desgaste do Jatene, por mais que tivessemos uma extensa bateria e fatos que poderiam ser utilizados, preferimos adotar portura "paz e amor" enquanto os udenistas "nos surravam"; exemplo, ainda, o encastelamento do comando de campanha e a distância em relação aos diversos grupos militantes e, por último, o distanciamento entre as campanhas proporcionais e a majoritária. Neste final de semana publicaremos nosso entendimento global sobre a questão.

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  4. "Conserteza" a certeza de vocês está absolutamente zonza. Roxa de hematomas. Merecidos.

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  5. Convém ao anônimo considerar "conserteza" que os hematomas do udenismo nacional são bem mais sérios que os hematomas do petismo democrata local. A certeza serrista local está bem mais "roxa de hematomas" ou diriamos marrons?

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