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Editor: José Trindade



domingo, 3 de julho de 2011

A Pauta de Exportação Primária Brasileira e a Amazônia

Por José Trindade & Wesley Oliveira

A balança comercial brasileira apresenta comportamento variado nas últimas duas décadas. Superavitária no começo dos anos 1990 e, de 1995 a 2000, deficitária. A partir daí o que se observa é superávit e crescimento considerável do saldo comercial, com as exportações crescendo em ritmo mais acelerado que as importações. Chegou ao pico em 2006, com saldo de US$ 46,5 bilhões, diminuindo o ritmo depois disso. O quiproquó porém são as características dessa exportação: baseada em produtos primários, com baixo valor agregado e localizada na região mais empobrecida do Brasil: a Amazônia.
Dos destaques dos produtos básicos, minério de ferro é o principal item da pauta de exportação, conforme evidenciado na Tabela 1 a seguir com os principais produtos exportados pelo país em 2010.
A soja também é outro importante produto. E, mesmo não estando (ainda) na lista, a carne bovina é outro item em franca ascensão. Em 2010, o Brasil exportou US$ 4,8 bilhões em carne bovina (80% sendo in natura). Vale ressaltar que o país é o maior exportador mundial de carne bovina.

Tabela 1 - Principais produtos exportados pelo Brasil – 2010
Descrição NCM
US$ (Mil)
MINERIOS DE FERRO NAO AGLOMERADOS E SEUS CONCENTRADOS
21.353.878
OLEOS BRUTOS DE PETROLEO
16.293.240
OUTROS GRAOS DE SOJA, MESMO TRITURADOS
11.035.210
ACUCAR DE CANA, EM BRUTO
9.306.851
MINERIOS DE FERRO AGLOMERADOS E SEUS CONCENTRADOS
7.558.004
CAFE NAO TORRADO, NAO DESCAFEINADO, EM GRAO
5.181.628
Outros
131.186.474
Total
201.915.285
                   Fonte: MDIC (2011).

Preocupa a observação que os produtos responsáveis pelo desmatamento são justamente os que estão em maior ascensão na pauta exportadora. E a Amazônia fornece boa parte deles, com destaque a pecuária bovina (carne e até boi vivo) e a soja.
Especificamente no caso da soja, o acompanhamento geoespacial feito pelo INPE há muito demonstrou a forte correlação entre as frentes de expansão produtiva e o forte incremento da floresta desmatada, em geral a soja aparece enquanto segunda geração de ocupação e alteração entrópica, após a expansão pecuária e a exploração madeireira.
No caso da extração mineral, o forte discurso ambientalista das principais empresas do setor contrasta com o efetivo padrão devastador da mesma. Vale observar que o ciclo minerador completo se constitui de três fases: i) o desmanche florestal, constituindo-se da remoção dos maciços florestais nas áreas a serem mineradas; ii) a extração da laterita e a exposição da jazida mineral; iii) o abandono da área atual e a abertura de nova frente. Em alguns casos as empresas mineradoras reconstituem uma floresta secundária, porém com enorme perda de diversidade.
Enfatizando apenas a exportação de produtos básicos, a dinâmica exportadora revela que a Amazônia dobrou sua participação no fornecimento nacional de produtos de menor valor agregado de 1995 para cá. A Tabela 7 a seguir mostra que no começo da série a região amazônica era responsável por cerca de 10% da exportação nacional de produtos básicos. No final da década de 1990 o percentual já apresenta aumento expressivo, atingindo o pico em 2009, com 23,2%. Tem-se, então, que quase um quarto de toda a exportação nacional de produtos básicos tem origem na Amazônia.

Tabela 2 - Exportações de produtos básicos, Amazônia e Brasil – 1995-2010


US$ Mil (FOB)
Ano
Amazônia
Brasil
%_Amazônia
1995
1.111.264
10.968.643
10,13
1996
1.150.058
11.900.127
9,66
1997
1.177.072
14.473.806
8,13
1998
1.763.530
12.976.630
13,59
1999
1.687.334
11.827.714
14,27
2000
2.078.022
12.564.214
16,54
2001
2.433.090
15.349.157
15,85
2002
2.739.186
16.959.138
16,15
2003
3.281.494
21.186.281
15,49
2004
4.923.374
28.528.571
17,26
2005
6.758.530
34.723.705
19,46
2006
7.833.855
40.280.500
19,45
2007
9.535.675
51.595.635
18,48
2008
15.157.183
73.027.660
20,76
2009
14.427.068
62.156.087
23,21
2010
20.014.744
90.147.293
22,20
                                     Fonte: MDIC (2010).
                                                        Elaboração dos autores.

Essa tendência de conversão da Amazônia em grande celeiro de produtos primários certamente não colabora no processo de desenvolvimento nacional e agrava as condições de exclusão social e de empobrecimento da região.
As condições de desenvolvimento regional parecem ainda mais agravadas pela relação contraditória entre desoneração da exportação e exportação de bens primários e semielaborados. A contradição presente relaciona-se a dois aspectos centrais: i) as cadeias de produção primário-exportadoras são muito curtas, o que estabelece a incapacidade de apropriação de rendas (mineradoras ou agrárias) que pudessem definir novos padrões sociais e ambientais para a região; ii) a segunda contradição relaciona-se bastante com a anterior e refere-se a desoneração tributária para exportação desse tipo de bem estabelecida pela Lei Complementar 87/96 (Lei Kandir), sem contudo nenhuma solução federativa ser oferecida. Os estados exportadores líquidos acabam tendo o ônus ambiental e social, sem o devido retorno, seja tributário, seja oriundo de acordo federativo.
O Brasil não pode encarar o Pará e o Mato Grosso, os dois principais estados exportadores, como meros apêndices geradores de divisas. É urgente o debate de uma agenda de desenvolvimento para a Região Amazônica e especificamente para esses dois Estados.

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