Por Zé Lins
Nas manifestações de
ruas pelo país a fora, houve-se inúmeras palavras de ordem, diversificadas e,
ao que parece, somente palidamente uniformizadas em torno das lutas por
transporte público digno e de qualidade. Tratar dessas manifestações com menos
espanto ou algo que me pareceu de “beata santidade”: “que nunca tínhamos
presenciado este nível de insatisfação popular”, parece ser a melhor postura a
se tomar. Sendo assim vejamos um pouco de relato pessoal desse que vos fala.
Corriam os idos de
1987, aquele ano de ressaca da assim chamada “Nova República” tinha iniciado
com grandes manifestações de rua, sendo que a pauta de reivindicação era muito
parecida com a atual: educação, qualidade de vida, transporte digno. Naquela
época momentaneamente ocupei a Vice-presidência da então aguerrida Comissão dos
Bairros de Belém (CBB), sendo que a luta pelo transporte (linhas de ônibus e
meia-passagem) era a base das reuniões entre a CBB, Centros Comunitários,
Grêmios Estudantis, União Metropolitana dos Estudantes Secundaristas (UMES) e
Diretório Central dos Estudantes (DCE).
Na época, bem distante
da existência das redes sociais virtuais ou até mesmo do acesso a formas de
comunicação de massa, a mobilização era na base do “mimeógrafo” e, pasmem,
mimeógrafo a álcool. Boa parte do trabalho de convencimento social era no “boca-a-boca”
e nas “panfletagens”, muitas das quais serviam não somente para convencer mais,
também, como ninguém é de ferro, “cantar” as meninas.
O ano de 1987 foi
marcado pela maior manifestação de rua que Belém presenciou na pós-ditadura
militar, a Greve Geral de agosto daquele ano paralisou, por uma semana de
confrontos e manifestações, todo o país. Em Belém, além das manifestações,
buscamos organizar “ações radicalizadas” nos bairros. Vale aqui, neste breve release
de memória, rememorar que juntamente com diversos companheiros, hoje a maior
parte “barrigudos” e “assustados”, fabricamos “miguelitos” com o objetivo de
“estourar” os pneus dos ônibus e pará-los, evitando sua circulação.
Bem, eu poderia
continuar o relato, mas me interessa tratar do que considero mais importante: o
movimento de rua enquanto aprendizagem social. De fato, não há mecanismo mais
rico de aprendizagem e de construção de sociedades radicalmente democráticas
que os movimentos reais de luta social e de manifestações de ruas.
Ressuscitando alguém que mete medo até a medula de tantos quantos “Jabors” existirem: “...há dias que valem por cem anos...” (Lênin).
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