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Editor: José Trindade



sexta-feira, 21 de junho de 2013

IMPRESSÕES E EXPRESSÕES DE UM MILITANTE DE ESQUERDA

Publico abaixo as notas de um companheiro que, tal como todos, buscam analisar o atual quadro de mobilizações e manifestações nacionais, não havendo certezas e sim muitas dúvidas. Abrimos nosso espaço para o debate franco e fraterno, sabendo que "quem sabe faz a hora, não espera acontecer", como, talvez, tenhamos sido pegos no contra-pé da história, o melhor seria refletirmos e buscarmos construir com máxima urgência, uma agenda de discussões e propostas para a sociedade, inclusive para o governo do PT. Segue o texto.

Por Marcelo Carneiro (Professor Associado da Universidade Federal do Maranhão)

Caros Amigos,

Meu sentimento hoje é semelhante ao de nossa derrota em 1989, apenas com uma pequena diferença. Naquele ano, mesmo derrotado, achava que tínhamos a história ao nosso lado, pois a contávamos com um formidável capital militante em nossas organizações sindicais, populares e estudantis. Hoje, vejo essa energia militante nas ruas, mas, não consigo prever para onde ela será canalizada.
Passando aos fatos e suas possíveis consequências:
1.       Creio que a base material do movimento é um descompasso entre o bem-estar anunciado (associado, no caso do RJ às obras estruturantes da Copa e das Olimpíadas) e a qualidade dos serviços públicos em nossas grandes cidades, especialmente o transporte.
2.       A propagação do movimento para outros centros, menos afetados por essas questões pode ser explicado pelas abordagens que foram desenvolvidas sobre os ciclos de protestos (Tilly e Tarrow) a partir dos movimentos de contestação social na Itália do final dos anos 1960.
3.       O sentimento anti-política é compreensível, uma vez que passamos os últimos anos (pós-mensalão) convivendo cotidianamente com o tema da corrupção partidária, que, ao contrário do que esperava a direita, não atinge somente o PT.
4.       Minha expectativa é que somente algo como o partido-movimento da Marina seja poupado desse tipo de sentimento.
5.       As organizações tradicionais dos movimentos sociais também não conseguem inserção no movimento, em alguns casos porque ele não lhe diz respeito diretamente (penso no movimento sindical urbano) ou porque foram ultrapassadas (movimento estudantil).
6.       No momento assistimos a uma intensa disputa pelo sentido das mobilizações, será essa disputa que dará o tom final do movimento.

Deixo agora as constatações e passo para as conjecturas.

7.       O pragmatismo político do PT foi colocado em xeque. O abandono da mobilização social e de bandeiras  tradicionais de esquerda corroeu o capital simbólico do partido junto a juventude e aos setores médios da sociedade;.
8.       Duas opções se colocam: tentar mobilizar a maioria silenciosa contra a onda de protestos (penso que foi um pouco do que o Rui Falcão tentou fazer) ou procurar uma mudança na condução partidária (em crises desse tipo, alguns partidos socialdemocratas saíram revigorados com o fortalecimento de suas juventudes).
9.       O problema é que não vejo uma juventude ou ala esquerda do partido capaz de liderar esse processo, pois as novas lideranças já foram absorvidas pela máquina estatal ou pela necessidade de reprodução de suas estruturas parlamentares.
10.   Não sou muito otimista sobre a capacidade do movimento em produzir mudanças mais profundas no sistema político, pois, não vejo perspectivas de canalização das energias da rua para um móvel de mudança institucional concreta e o sistema político brasileiro é muito resiliente.

Minha expectativa é a do reforço de uma liderança do tipo da Marina, cuja imagem acredito que é a que mais se aproxima de parte do ideário (vítima das burocracias partidárias, pro-sustentabilidade, pro-novas formas de participação, etc.) do que tem sido verbalizado nas ruas.
Esse seria o cenário menos negativo para a esquerda. Porém, temo que nem essa perspectiva se viabilize.

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