Por José Trindade
Tomar as ruas sempre foi uma boa solução, como também entender tão claramente quanto seja possível os fatos em movimento.
O entendimento critico e radical das manifestações em curso passa pela necessária compreensão de dois fatos que nos parecem óbvios em relação a sociedade brasileira atual: primeiramente, vivemos um dos momentos de maior busca por identidade nacional dos últimos cinquenta anos e; segundo, temos um grande contingente de juventude que busca exercitar a cidadania da luta por seus direitos.
Tomar as ruas sempre foi uma boa solução, como também entender tão claramente quanto seja possível os fatos em movimento.
O entendimento critico e radical das manifestações em curso passa pela necessária compreensão de dois fatos que nos parecem óbvios em relação a sociedade brasileira atual: primeiramente, vivemos um dos momentos de maior busca por identidade nacional dos últimos cinquenta anos e; segundo, temos um grande contingente de juventude que busca exercitar a cidadania da luta por seus direitos.
Vale observar que os períodos
de ditadura (militar e neoliberal) que foram, infelizmente, sequentes, sufocaram
a capacidade critica e de pensar da sociedade brasileira (nas décadas de 1970 e
1990, respectivamente), sendo que os poucos anos entre o fim da ditadura
militar (1985) e o início da ditadura neoliberal (1992), foram marcados por intensa movimentação social (diretas já;
meia-passagem; constituinte livre; impeachment de Collor), sendo que o emergir do projeto neoliberal enquanto projeto
hegemônico na sociedade brasileira (eleições de Fernando Henrique Cardoso), açambarcou fortemente as condições de
radicalização democrática brasileira.
Vale lembrar que as
condições de “acumulo de forças” na luta contra as ditaduras, esteve na base da
construção de um projeto de sociedade nacional democrática e das organizações da sociedade civil que
fundamentaram o projeto social-reformista de Lula e Dilma.
O que temos agora,
ainda muito embrionário, parece ser fruto da convergência de cinco fatores que
necessitam ser melhor pensados e devidamente analisados:
i) O esgotamento do
reformismo centrado em políticas compensatórias. Como muitos sabemos a agenda
mínima dos governos Lula e Dilma já se realizaram, óbvio que a manutenção de
políticas públicas como bolsa família e outras terão que ser
institucionalizadas (talvez, até, constitucionalizadas), assim como a dinâmica
de elevação da “demanda agregada” por uma meta de valorização do salário médio
da economia terão que ser mantidos, isso chamaríamos de agenda “mínima”
keynesiana do reformismo petista. Essa agenda mínima tem que ser superada
positivamente, propondo-se um conjunto de reformas que terão que ser pactuadas
com a sociedade.
ii) A precariedade urbana
e ausência de políticas de mobilidade urbana nas cidades brasileiras. Não poucos estudos já sinalizaram os enormes
déficits sociais de nossas cidades, fruto, em parte, da acelerada urbanização e
periferização decorrente do padrão concentrador de renda da sociedade
brasileira e da especulação com o solo urbano. A reforma urbana já estava
prevista nas chamadas reformas de base do governo Jango, que, como sabemos, foram
interrompidas no nascedouro, pelo golpe militar de 1964. Nesta agenda de
reforma urbana, se inscreve políticas públicas de mobilidade urbana (transporte
público de qualidade e a preços subsidiados).
iii) A capacidade de
comunicação e interação das redes sociais. Como em outros países, o atual
movimento experimenta o poder de comunicação em tempo real das redes sociais,
algo que já tínhamos conhecimento, mas que somente agora experimentamos efetivamente.
Viver é aprender, mas, sobretudo criar.
iv) O “bônus
demográfico” e seu duplo reflexo: expansão da população em idade ativa e do
mercado de trabalho. Até então, esse termo parecia jargão somente de
estatístico e economista, o Brasil passaria por um tal “Bônus Demográfico”,
único para cada país a cada cem anos. O Bônus
demográfico é o momento em que a estrutura etária da população atua no sentido
de facilitar o crescimento econômico, isso acontece quando há um grande contingente
da população em idade produtiva e um menor número de idosos e crianças. Nos
últimos dez anos o mercado de trabalho brasileiro se expandiu, se beneficiando
do crescimento da formalidade econômica e também do maior contingente
populacional em idade ativa. Não há como isolar as reinvindicações por
transporte público desta especifica realidade.
v) “The last”, mas sem
ser a menos importante, ou quiçá a mais importante: o peso da juventude e a
necessidade de alto-expressão. Ao analisarmos a pirâmide etária brasileira:
quase 27% da população brasileira era constituída em 2010 por jovens entre 15 e
29 anos (51,3 milhões, aproximadamente, conforme o Censo do IBGE), sendo que,
segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD, 2007), do total de
jovens 30,6% podem ser considerados
pobres, pois vivem em famílias com renda domiciliar per capita de até meio
salário mínimo (conferir: Juventude e Políticas Sociais no Brasil, Ipea, 2009).
Esse enorme contingente sempre foi a vanguarda de mobilização em qualquer país
(lembrar do “Maio de 1968”; “Diretas Já”; “Fora Collor”, etc.), não há motivos
para se pensar que a juventude se aquietou ou se tornou somente “virtual”, como
alguns analistas pensavam. A juventude volta as ruas como uma espécie de
cálculo geracional: nada de novo e tudo de jovem.
A juventude volta as ruas como uma espécie de cálculo geracional: nada de novo e tudo de jovem.
Por fim, vale um alerta
e uma observação, porém sem ver desânimo e sim aposta no futuro:
1. O alerta: a direita
e o seu poder midiático quer reverter os movimentos sociais e suas justas lutas
a favor do seu não-projeto de nação ou de
retorno aprofundado a ditadura
neoliberal (algo pertinente aos anos 1990), temos que detê-los!
2. A observação: o
esgotamento do reformismo centrado nas políticas compensatórias exige a
reivindicação, por parte da sociedade civil, de uma nova agenda programática,
que aprofunde as reformas sociais, que coloque a reforma urbana em discussão e
efetivação e aprofunde a ruptura com o neoliberalismo.
Construir uma agenda
democrática radical, contra a agenda neoliberal e pútrida da direita tucana e
de similares!
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