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Editor: José Trindade



terça-feira, 2 de julho de 2013

O estopim das crises

Nesses dias de intensa disputa social, econômica e política nas “terras brasilis”, vale muito a leitura do texto de Bernabucci com base nos estudos do prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz, publicado na revista Carta Capital de 18/06/2013 e aqui reproduzido, mais ainda quando setores de classe média desavisadamente manipulados pelas mídias das elites nacionais se voltam contrários a políticas sociais tão básicas e necessárias como o programa bolsa família.

O estudo de Stiglitz demonstra a relação inversa entre a concentração de renda e o crescimento econômico, o que parece óbvio para alguns, não parece para aqueles que retrucam contrários a distribuição de renda minimamente efetuada pelo referido programa social. Por último uma observação:  ao defendermos o Imposto Sobre Grandes Fortunas, compreendemos que a taxação aos ricos possa diminuir o triste perfil brasileiro de sociedade mundial mais desigual. Por outro, talvez, tenhamos nesta elevada desigualdade um dos componentes explicativos para as baixas taxas de crescimento da economia brasileira, mesmo porque,  por mais que tenha timidamente diminuído em função dos ganhos salariais e do programa bolsa família dos últimos anos, infelizmente ainda persiste, uma enorme concentração de renda e riqueza


Publicado em junho 18, 2013 (Carta Capital)
Quando o 1% mais rico concentra 25% da renda, explode a “bomba atômica econômica”, diz o Nobel Joseph Stiglitz
Por Claudio Bernabucci

A DESIGUALDADE mata o desenvolvimento. Se a riqueza se concentra em poucas mãos, a crise é inevitável. Parece quase uma observação banal- e de alguma maneira qualquer pobre já sabia disso -, mas a grande novidade é que, a partir de agora, essa verdade simples tem status de teorema.

Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia em 2002, sustenta que, se a riqueza está concentrada nas mãos de poucos, é fatal cair em estagnação e recessão econômica, como nos anos 1930. O axioma do economista norte-americano é demonstrado com dados incontestáveis e confere dignidade científica ao princípio de que desigualdade e polarização na renda prejudicam o crescimento e reduzem o PIB.

A oportunidade para apresentar os resultados extraordinários de sua pesquisa, uma espécie de pré-estreia mundial, foi a soa reunião científica da Sociedade Italiana de Economia, Demografia e Estatística (Sieds), ocorrida em Roma, nos últimos dias de maio. Stiglitz, que na mesma linha de pesquisa publicou, em janeiro passado, o impactante livro O Preço da Desigualdade, apresentou na Universidade Europeia de Roma o fruto de seus estudos mais recentes, elaborados com seu principal colaborador italiano, o professor Mauro Gallegati.

O teorema de Stiglitz é baseado na constatação empírica do que os economistas definem como “propensão a consumir”: os ricos a têm em grau menos acentuado do que a classe média. Portanto, se a distribuição de renda os favorece além de certos limites, o consumo, ao contrário do que se poderia imaginar, fica deprimido. Somente uma classe média bem-sucedida e favorecida pela distribuição de renda tende a consumir todos ou quase todos os seus recursos, sustentando o PIB do próprio país e a economia global.

O gráfico apresentado por Stiglitz é muito eloquente: quando o 1% mais rico da população se aproxima de possuir 25% da renda, explode a “bomba atômica econômica”. Aconteceu na Grande Depressão dos anos 30 e se repete nesta década, com episódios menores no caminho das crises.

A pesquisa ítalo-americana ameaça ter efeito devastador entre as filas neoliberais. “Os defensores da desigualdade argumentam que assegurar mais dinheiro para os mais ricos produz benefícios para todos, porque isso levaria a maior crescimento”, escreve Stiglitz em seu relatório. “Trata-se de uma ideia chamada trickle-down economics (economia com efeito cascata). Ela tem longo pedigree, mas, faz tempo que tem sido desacreditada.”

Resumido em poucas linhas, o teorema se autoexplica de maneira muito clara, como equação aritmética ou fórmula química não particularmente complicada. É baseado na relação entre o Índice de Gini (ou seja, o indicador de desigualdade inventado pelo economista italiano Corrado Gini) e a teoria da “propensão marginal a consumir”. Quando o primeiro aumenta e indica o incremento da desigualdade, a classe média freia ou para de consumir. Em consequência, o “multiplicador” de investimento diminui, afetando o PIB e a evolução econômica positiva.

O teorema de Stiglitz sobre “distribuição e multiplicador” pode ser sintetizado na seguinte definição: se a má distribuição da riqueza acentua a desigualdade, então a propensão marginal ao consumo (C)diminui e o Índice de Gini (G) aumenta, o que provoca a diminuição do valor do multiplicador econômico, com base na fórmula > ml = 1/(1- C)k (1/1-G).

A elite econômica mundial, dessa forma, fica sem argumentos. Tudo indica que a equação de Stiglitz representa o ataque mais formidável até agora lançado aos já vacilantes fundamentos da economia mainstream. Pelo menos na batalha teórica. Faz alguns meses, o primeiro golpe foi dado diretamente pelo FMI, que desafiou o dogma da austeridade ao calcular que o corte do déficit de 1%pode reduzir o PIB em até 2% e não só – como se acreditava até então – em 0,5%.

A segunda pancada foi acertada poucas semanas atrás por um grupo de estudantes do Instituto de Tecnologia do Massachusetts (o famoso MIT de Boston): ajudados por alguns professores, eles descobriram um erro no programa de planilhas Excel. Com base nesse achado, desmontaram consequentemente a teoria da dívida de Kenneth Rogoff e Carmen Reinhart – um dos emblemas do neoliberalismo -, segundo a qual a relação entre PIB e dívida acima de 90% leva inevitavelmente à recessão. Enfrentado pelos estudantes-Davi, o axioma-Golias teve a cabeça cortada.

Esse último assalto ao neoliberalismo da dupla Stiglitz-Gallegati mostra-se ainda mais perigoso do que os precedentes. Segundo o Prêmio Nobel, a desigualdade corrói o PIE até matá-lo, não só por causa da queda do consumo, mas também porque o sistema em que prevalecem renda, concentração financeira e monopólios é ineficiente. “A caça à renda”, comentaram os dois pesquisadores, “leva muitas vezes a um desperdício de recursos que reduz a produtividade e o bem-estar.”

Isso reforça a tese da insustentabilidade de um sistema capaz de permitir uma grande parte do rendimento e da riqueza nas mãos de poucos. Nas últimas três décadas, o mundo tornou-se cada vez mais rico, mas a distribuição de rendimentos entre países e entre classes sociais de um país ficou cada vez mais desigual. Isto significa que os ricos têm se apropriado de uma porcentagem enorme do crescimento e do incremento da produtividade.

Como corolário de tal concentração (e bem descrito no gráfico ao lado), na última década em particular verificou-se um tremendo abismo entre a economia real e o setor financeiro, com enormes capitais a se acumular e circular livremente no mundo globalizado como uma nuvem pouco transparente e ameaçadora. Dessa nuvem não chove a riqueza benéfica dos investimentos nem a bonança para o planeta. Muito pelo contrário, ela tende a se reproduzir predominantemente através da dinâmica perversa dos artifícios financeiros: dinheiro cria dinheiro sem produzir trabalho ou justiça social. Além de desigual e eticamente inaceitável, essa situação só abre céus azuis ou bem-estar para poucos e tempestades ou sofrimentos para os demais.

A redistribuição concertada de riqueza e rendimento tem sido essencial para a sobrevivência de longo prazo do capitalismo. Estamos prestes, portanto, a assistir ao ocaso das formas mais perversas do neoliberalismo que infestaram a história recente. Quanto mais forte for a resistência à mudança por parte dos defensores do status quo econômico-financeiro, piores consequências sofrerão o sistema e as partes mais vulneráveis dele.
Nesse quadro, o Brasil da última década apresenta-se como uma das experiências mais promissoras, pois caminha em direção oposta ao mainstream. Mesmo perdurando a gravíssima desigualdade, fruto de uma herança secular maldita, um presente ofensivo da elite nacional à história pátria o processo de redistribuição de renda cresceu nos últimos anos de maneira acentuada. Isso se deve à política econômica – desenvolvimentista e antineoliberal – iniciada em 2003, que teve papel fundamental na melhora do desempenho do País.


A nova teoria do norte-americano Stiglitz e do italiano Gallegati confere dignidade cientifica também à política econômica lulista dos últimos dez anos, goste ou não a elite brasileira.

Um comentário:

  1. A ilusão do Petismo [cultura da mentira]:


    PT é TRUCULENTO, embusteiro, picareta, VIGARISTA. O PT é um tipo de religião CHARLATÃ.

    Lula e sobretudo dilma são IMPOSTORES.

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