Crônicas Medievalistas XV
Nosso irreverente cronista Zé Lins andou sumido, mas agora reaparece direto do Vaticano e trazendo uma proposta bem radical!
Por Zé Lins
(Especial do Vaticano)
Não sou exatamente um
católico praticante, vocês sabem: daquele tipo que vai a novena, frequenta
missa e “papa” hóstia. Bem, na verdade, não sou exceção, sou regra. Vejam vocês,
segundo números recentes, no Brasil 79% da população se declara católica, mas
somente 45% se dizem “praticantes”. É bom dizer que isso não é um acaso
tupiniquim, entre nossos patrícios portenhos 89% se dizem católicos, mas
somente 21% vai a novena e sabe rezar o padre-nosso e a salve-rainha de co e salteado.
Mesmo com essa fraqueza
litúrgica, me cabe uma opinião sincera e que gostaria de dividir com todos os
irmãos católicos, praticantes, agnósticos, de outros credos e até ateus apostólicos
romanos: a defesa das eleições diretas e universais para o papado. Tenho
certeza que a proposta aqui feita e abaixo fundamentada criará um amplo
movimento e despertarão vivas criticas e ferozes debates, como, aliás, tudo que
se relaciona a milenar crença fundada por São Pedro e tão fortemente impregnada
no mundo ocidental.
Nos últimos anos o
mundo católico vem passando por intensa crise, ou melhor, crises diversas:
crise de fidelidade, daquele tipo que se troca de casa por ter perdido o
interesse pela reza diária; crise de consciência, quando os pecados pesam mais
que as penitências; crise de modernidade, quando tudo tá mudando tão rápido que
fica a sensação que se perdeu o trem da história; finalmente, a crise mais
grave, a crise de reconhecimento, aquele tipo que por perder as referências, ou
as mesmas caducarem, envelhecidas pelo tempo, se fica perdido procurando se
segurar em qualquer resquício de suas antigas verdades, quase todas hoje em
frangalhos.
Faço aqui uma proposta
revolucionária a todos os católicos, mais ou menos praticantes, não vem ao
caso: Eleições diretas já para o Papa. Vejam vocês a conveniência do momento e
a grande repercussão que essa decisão ensejaria. Vamos aos fatos.
Pela primeira vez, em
seiscentos anos, se tem uma renúncia papal, sendo que pela primeira vez na
história diretamente transmitida ao vivo e a cores pela internet e tv. Na
história se tem registrado somente outros quatro casos de renúncia papal, todos
em momentos de grande crise católica, valendo citar aqui, o ocaso do papa Celestino
V, um eremita eleito em 1294, somente eleito porque ameaçou com a ira de São
Pedro os cardeais que se reuniam havia três anos sem chegar a um consenso. O
eremita não aguentou o reinado papal e em cinco meses resolveu retornar a sua
vida de andarilho, somente impedida pelo cruel Bonifácio VIII que mandou
prender e executar o pobre andarilho.
Como Ratzinger nunca
teve predisposição a andarilho, julgo que deverá findar seus dias em parcial
santidade, mesmo que o desembaraço da atual crise de reconhecimento e de
consciência sejam duras tarefas a serem tratadas nos próximos anos. Deste modo,
a melhor forma da Igreja tratar o atual caso é com um choque democrático:
conclamar todos os fiéis, quase fiéis e outros acólitos a se manifestarem na
escolha do futuro papa.
Claro está que algumas
regras básicas terão que ser cumpridas, para que não haja nenhum risco de
questionamento ou dúvidas quanto a serenidade e seriedade de tão divina escolha
popular. Vamos a elas:
i) Somente poderão
concorrer bispos e cardeais, nada diferente do que já se tem hoje;
ii) Cada país votará
numa lista de três nomes de nacionalidades distintas, podendo somente um dos
votados ser da mesma nacionalidade;
iii) O voto será
universal, não havendo diferença entre ser coroinha, diácono, padre ou mero
mortal devoto;
iv) Uma comissão
internacional, acompanhada pela ONU, por representantes de todas as outras
crenças e religiões, será responsável pela apuração dos votos.
Julgo que basta de regras, caso acatem minha
sugestão tenho certeza que se constituirá um amplo movimento, com forte
determinação de democratizar a santa madre igreja e que proporá regras de ampla
participação na primeira eleição direta de um papa, claro que com forte
oposição da Opus Dei e da TFP (Tradição, Família e Propriedade).
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