Por Zé Lins
No último sábado (18/05) estive no cinema, fui com a minha
moçada: minha pequena e meus dois moleques (um guri de 13 e uma guria de 15). O
filme em tela grande a ser assistido foi “Somos tão jovens”, um libelo em
homenagem aos anos oitenta e a juventude criativa e transformadora que se
expunha após àqueles longos anos das amarras da ditadura.
O fundo do relato das bandas de rock nacional e da ação
individual do jovem Renato Russo, somente evidencia o choque das forças conservadoras com o arraso impossível dos gritos sufocados naqueles anos de ruas
retomadas. Quem viveu, ou quem dispõe da memória dessa história recente do
Brasil, deve se virar em paixões remoídas ao se recordar dos primeiros passos e
da mistura incontida de músicas, passeatas e vinhos de segunda.
A longa década de 1980[1] já vai
longe, sendo que seus dias indistintos parecem muito pouco rememorados, ou
talvez a dificuldade de interagir com era tão próxima nos dificulte tomada de
juízo ou análise menos apaixonada, mas uma primeira aproximação, talvez pela
prosa e pelas artes seja um bom começo.
A longa década de 1980 brasileira se iniciou na atormentada e
autoritária década de 1970, mas precisamente o ano de 1978 marcava de forma
indelével os espasmos críticos daquele “aborto social[2]”
produzido nos vinte anos anteriores, fruto da nova organização de trabalhadores
irrompeu, no ABC Paulista, a primeira grande greve operária, ainda pouco sapiente da
necessidade de ruptura com o capital e sua rancorosa expressão institucional
nativa.
Os anos seguintes foram num crescente: o tecido social
brasileiro se desfazendo e se refazendo; “legiões urbanas”[3] invadindo
sinais e supermercados. Os novos ou recriados, movimentos sociais germinando e
se expandindo rapidamente. Foram anos de muitas assembleias, debates acirrados
e dias curtos. A reconstrução da UNE (União Nacional dos Estudantes), UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) e o lançamento da primeira central de trabalhadores independente
(Central Única dos Trabalhadores - CUT). Tudo isso regado a muito rock roll, vinho de
segunda e canções de ruas.
Os anos seguintes foram numa crescente, o tecido social brasileiro se desfazendo e se refazendo, “legiões urbanas” invadindo sinais e supermercados.
Esta breve crônica do belo filme de Antônio Fontoura não
poderia encerrar sem a menção do desencantamento que nos parece necessário para
a redescoberta de novas décadas criticas e cheias de ternura, porque, como
todos sabemos “tudo mais é sentimento ou fingimento levado pelo pé” [4].
[1] O termo
é aqui roubado de Giovani Arrighi (O longo século XX. Contraponto, 1996), que
visualizou, em oposição a Eric Hobsbawm (Era dos Extremos: o breve século XX.
Companhia das Letras, 2012 ) que as décadas finais do Século XX tinham uma
espécie de assombração temporal, temiam em não se desfazer ou se acabar.
[2]
Referência a primeira banda organizada por Renato Russo: “Aborto Elétrico”.
[3] Referência
a segunda banda organizada por Renato Russo: “Legião Urbana”.
[4]
Carlos Drummond (Arte Poética. In: A Paixão Medida. Record, 1993).
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