Por José Trindade
O
Grupo de Análise Fiscal, sob minha coordenação, tem o objetivo de realizar estudos
pormenorizados da situação fiscal e da gestão de políticas públicas nos
municípios paraenses. O estudo em tela, a ser apresentado no Seminário Análise
Fiscal e Políticas Públicas (http://www.portal.ufpa.br/imprensa/noticia.php?cod=7229) é o primeiro de vários que possibilitarão uma maior
aproximação entre a análise acadêmica e o necessário acompanhamento social dos
dados fiscais e da gestão pública municipal.
A análise dos dados
fiscais municipais paraenses nos possibilita conhecimento mais integrado do
comportamento da gestão pública em duas funções sociais básicas: a educação/cultura e saúde/saneamento. Por outro, o conhecimento detido e particularizado das receitas
municipais estruturadas em Regiões de Integração possibilitam vislumbrar as
distorções federativas locais quanto a apropriação de receitas disponíveis e
limites que se impõem aos necessários gastos nas rubricas sociais mencionadas.
Metodologicamente é de
interesse, não somente acadêmico, analisar uma realidade complexa como a
paraense utilizando um recorte de estrutura de planejamento integrado, o que se
vislumbra com as chamadas Regiões de Integração. Neste sentido, as políticas
públicas em foco podem e devem ser tratadas enquanto esforço integrado de
diversas municipalidades, algo que as políticas de consorcio público podem
tornar efetivas.
Perceberam-se
algumas tendências econômico-territoriais importantes, entre elas: uma
expressiva concentração das receitas tributárias nos municípios da Região
Metropolitana de Belém e na Região de Integração de Carajás, o que coincide com
a maior dinamicidade econômica dessas duas regiões, seja pela historicidade da
região metropolitana, seja pela base mineral que sustenta a dinâmica de
Carajás, especialmente os municípios do corredor do eixo do ferro (Canãa,
Parauapebas e Marabá), como pode ser visto no gráfico abaixo.
As transferências
governamentais da União são bem mais diluídas em todo territórios, seja no caso
do FPM (Fundo de Participação do Município) pelo regramento institucional próprio baseado no indicador populacional,
seja as transferências vinculadas, especialmente no caso do FUNDEB (Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica), que
demonstrou elevado nível distributivo e capacidade de estruturação da função
educação nas diversas regiões de integração. No caso do Cota-ICMS foi atestado que os
critérios centrados no valor adicionado produzem uma concentração nas duas
regiões mais dinâmicas (RMB e RCJ), o que nos leva a consideração que o FPM,
SUS e FUNDEB atuaram de forma mais redistributiva e o ICMS é mais concentrado
nos municípios com maior força econômica.
A
proporção de gastos em Educação dos municípios do Estado do Pará demonstrou que
as regras centradas em fundos vinculados parecem ser os melhores mecanismos
distributivos, seja pela maior transparência no uso do recurso, seja pela
objetividade estabelecida em indicadores de acompanhamento mais objetivos.
Observou-se que de forma generalizada houve elevação nos gastos per capita em
educação básica, sendo que as taxas de crescimento foram expressivas nas
diversas RI’s e, também, nas diversas faixas populacionais municipais.
O
percentual de municípios com gastos per capita acima de R$ 600,00 para o ano de
2011 foi de 33,57%, representando expressivo crescimento em relação ao ano de
2006, que era de somente 5,59%. Nas faixas acima de R$ 400 e R$ 500,00 houve
crescimento sensível de municípios, basta ver as proporções de 2006 e 2011. Ainda,
de maneira geral, o gasto per capita em Educação e Cultura tem crescido e se
tornado maior nas demais regiões em detrimento da RMB, o que pode refletir a
perda de dinamicidade da capital em relação ao restante do estado nas últimas
duas décadas, como pode ser conferido na tabela abaixo.
Despesa per capita com Educação/Cultura nas RI's (Valores Correntes – R$)
Regiões de Integração
|
N° de Municípios
|
Despesa per capita com Educação
|
||
2006
|
2011
|
∆% Anual
|
||
Região Metropolitana
|
5
|
104,33
|
222,46
|
22,6
|
Região Guamá
|
18
|
196,79
|
436,27
|
24,3
|
Região Caeté
|
15
|
192,87
|
517,51
|
33,6
|
Região Araguaia
|
15
|
253,04
|
517,06
|
20,8
|
Região Carajás
|
12
|
328,06
|
770,47
|
26,9
|
Região Tocantins
|
11
|
298,49
|
597,32
|
20,0
|
Região Baixo Amazonas
|
12
|
241,53
|
643,02
|
33,2
|
Região Lago do Tucuruí
|
7
|
277,18
|
686,65
|
29,5
|
Região Rio Capim
|
16
|
260,62
|
692,42
|
33,1
|
Região Xingu
|
10
|
274,42
|
647,58
|
27,2
|
Região Marajó
|
16
|
244,91
|
726,71
|
39,3
|
Região Tapajós
|
6
|
231,16
|
666,31
|
37,6
|
Total
|
143
|
208,21
|
488,91
|
26,9
|
Fonte:
FINBRA, STN (2011). Elaboração própria.
Quanto a função Saúde/Saneamento
foi possível verificar que há elevação real nos gastos, porém em níveis
bastante aquém das reais necessidades do bem-estar da população, o que se
verifica observando as baixas taxas de crescimento per capita médias anuais. Os
municípios paraenses, tomados em seu conjunto revelaram, em 2011, uma
distribuição razoavelmente equilibrada entre as faixas de despesas com Saúde e
Saneamento, sendo que a concentração dos municípios se dá nas faixas
intermediárias de gasto: entre 15% e 30%. A RMB apesar do caráter de “auxílio”
geral que desenvolve em relação às demais regiões, especialmente as mais
próximas, porém foi uma das que menos apresentou crescimento per capita nos
últimos cinco anos, como se denota na tabela abaixo.
Despesa per
capita com Saúde e Saneamento por RI's (Valores Correntes –
R$)
Regiões de Integração
|
N° de Municípios
|
Despesa per capita com Saúde e Saneamento
|
||
2006
|
2011
|
∆% Anual
|
||
Região Metropolitana
|
5
|
241,40
|
359,69
|
9,8
|
Região Guamá
|
18
|
154,72
|
214,69
|
7,8
|
Região Caeté
|
15
|
126,84
|
219,98
|
14,7
|
Região Araguaia
|
15
|
183,43
|
347,09
|
17,8
|
Região Carajá
|
12
|
259,01
|
574,48
|
24,4
|
Região Tocantins
|
11
|
153,66
|
217,13
|
8,3
|
Região Baixo Amazonas
|
12
|
147,52
|
317,28
|
23,0
|
Região Lago do Tucuruí
|
7
|
153,36
|
412,41
|
33,8
|
Região Rio Capim
|
16
|
141,40
|
312,73
|
24,2
|
Região Xingu
|
10
|
182,26
|
264,89
|
9,1
|
Região Marajó
|
16
|
102,45
|
217,28
|
22,4
|
Região Tapajós
|
6
|
117,56
|
313,97
|
33,4
|
Total
|
143
|
183,43
|
332,83
|
16,3
|
Fonte: FINBRA, STN (2011). Elaboração própria.
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